Recebi essa semana um telefonema do Manoel Soares, amigo e repórter da Globo. Ele me perguntou por que sempre tem uma bandeira de Israel nas manifestações pró-Bolsonaro. O Manoel é um dos caras mais inteligentes que conheço. Faz como ninguém a ponte entre a periferia e o asfalto, sempre com um olhar agudo e construtivo. O tom da pergunta não era nem de crítica nem de aplauso, mas de quem quer realmente entender. Um gesto raro nesses tempos de gritaria instantânea.
Vai aí a minha explicação. Em primeiro lugar, é bastante provável que as bandeiras de Israel não sejam empunhadas por representantes da comunidade judaica. Existe uma corrente religiosa evangélica que apoia integralmente Israel, pela crença de que a segurança física e espiritual do país é pré-requisito para a volta do Messias. Tudo legítimo e nada condenável, desde que os limites sejam claros.
Ninguém pode impedir alguém de empunhar uma bandeira, seja do Brasil, de Israel, da Palestina ou dos Estados Unidos. Mas o fato de um ou mais indivíduos erguerem essa bandeira não os transforma em representantes de um país, ainda mais quando esse país é democrático e plural. Sempre achei estranho quando, mundo afora, queimam a bandeira dos EUA em manifestações. Estão condenando quem? A Klu Klux Klan ou Martin Luther King?
Particularmente, não gosto de ver a bandeira de Israel ou do Brasil associada a qualquer radicalismo, seja ele de esquerda ou de direita. Mas tenho certeza de que aquelas bandeiras ali não representam nem o Estado de Israel e muito menos a comunidade judaica brasileira.
Como brasileiros e cidadãos, os integrantes da comunidade judaica participam ativamente da vida nacional. Vale lembrar que o governo Lula tinha ministros e assessores graduados de origem judaica – Jaques Wagner, Tarso Genro e Clara Ant, entre outros – sem que isso significasse uma tentativa de impor qualquer apoio automático do todo.
Os governos de Israel, eleitos democraticamente, não resumem a diversidade de opiniões e posições do país. Indivíduos que empunhem bandeiras não são embaixadores e nem representantes legítimos do todo, embora tenham o direito de se manifestar livremente.