Éramos uns quatro ou cinco, cada um pilotando um veículo offroad cedido pelos patrocinadores. Quem organizou a função foi o Rogério Mendelski, um aficionado por esportes radicais.
Modesto, ele não gosta de falar sobre o assunto, mas reza a lenda que, certa feita, o Mendelski espantou um tubarão branco com soco, durante um mergulho de naufrágio na barreira de corais da Austrália.
De volta ao pago, nosso destino naquele sábado, no final dos anos 1990, era o sul do Estado, antes do asfalto transformar a Estrada do Inferno na Rodovia dos Nutellas. Iríamos até Rio Grande e de lá, pela balsa, chegaríamos até São José no Norte, onde o perrengue começaria. Barro, solavancos, buracos. A única certeza era de que iríamos atolar, o que efetivamente aconteceu, tudo registrado pelas câmeras da TVCOM, que exibiu um documentário sobre a excursão alguns dias depois. Acredito que está lá até hoje, guardado em algum canto do arquivo.
Eu estava preparado para o pior. Roupa, chapéu, botas e uma pitada de nervosismo. Havia uma certa dose de risco na empreitada. Combinamos um ponto de encontro em uma concessionária da avenida Farrapos, em Porto Alegre, de onde partiríamos em direção ao caminho inóspito e desafiador. A estas alturas, eu já conquistara uma certa intimidade com o meu Vitara emprestado. Cheguei na hora certa ao local. Os colegas de aventura foram estacionando, um a um. Eis que surge o Pedro Ernesto Denardin. Não lembro qual era o modelo que ele pilotava, mas era um quatro por quatro imponente. Olhei pelo retrovisor e vi que tinha mais gente no carro. Cheguei perto e deparei com uma cena inesquecível. No banco traseiro, devidamente acomodado no bebê conforto, dormia um minúsculo e encantador ser humano. Era o Ricardinho, hoje um marmanjo com mais de 20 anos, filho do Pedro e da Jussara.
Até aí tudo bem, se não estivesse ao lado dele uma babá. O Pedro Ernesto é, certamente, o único piloto de rali na História da Humanidade a fazer uma prova acompanhado por um bebê e por uma babá. Para tornar tudo ainda mais exótico, enquanto o Mendelski, por pura diversão, jogava o carro na lama e acelerava nos buracos, o Pedro dirigia na ponta dos dedos. Nem sujou a lataria. Tudo para proteger o Ricardinho – pai extremamente cuidadoso que sempre foi – e evitar desconfortos à sua assessora para assuntos neonatais.
Perto de Bojuru, enquanto barbarizávamos na estrada de chão detonada pelas chuvas da semana, o Pedro estacionou para preparar uma mamadeira. Passei a admirar ainda mais esse homem sensível e cuidadoso.
Lembramos dessa história durante a semana, antes do novo Jornal do Almoço, onde dividimos a bancada com o Paulo Germano e a Giane Guerra, sob o comando da Cris Ranzolin.
Tenho certeza de que foi depois daquele rali que o Pedro decidiu mudar de foco. Virou cantor. Mas aí, não há babá que ajude.