Eu era um jovem jornalista quando, na década de 90, deparei com uma notícia na ainda incipiente internet. Um novo buscador, bem mais rápido, ganhava espaço nos Estados Unidos. Na época, eu fazia comentários matinais no programa Gaúcha Hoje, da Rádio Gaúcha. Treinei algumas vezes para acertar a pronúncia: "gugl". Foi então que aposentei o Cadê e o Yahoo. Naquela época, a disrupção gerada pela tecnologia acenava como uma promessa de futuro luminoso, com democracia de acesso, liberdade de escolhas e conexão ilimitada.
Passadas as primeiras ondas do choque, me socorro da frase que encerra o livro de Juan Sánchez, ex-guarda-costas de Fidel Castro que publicou revelações escabrosas sobre o regime cubano: " Não compreendo porque, no fim, toda a revolução se transforma exatamente naquilo que tentou combater".
Google e Facebook, duas ideias legais, viraram empresas que se apresentam como fornecedoras de informação. Na prática, fazem o aposto: são drenos pelos quais sugam dados dos usuários, nem sempre usados de forma ética e transparente.
Mais do que um escândalo nacional, a invasão do celular do procurador mais famoso do Brasil é a reiteração de um aviso: não existe lugar seguro no mundo digital. Por isso, a tendência agora se inverterá. Aposto que sim. O compartilhamento frenético dará lugar à busca da exclusividade. A hiperexposição alimentará o anseio pela privacidade. As redes sociais com bilhões de usuários perderão espaços para núcleos fechados, restritos.
O saldo da revolução tecnológica não é necessariamente negativo. Há muitas evoluções conquistadas pelo caminho. Mas a diferença entre o veneno e o remédio é dose. Estamos intoxicados pelo que deveria nos curar.