Os moradores da rua da República, na Cidade Baixa, em Porto Alegre, tiveram uma surpresa no início desta semana. O topo das árvores foi tomado por papagaios alvoroçados. Dezenas deles.
De acordo com o ornitólogo Glayson Bencke, da Fundação Zoobotânica, trata-se da espécie Amazona aestiva, conhecida popularmente como papagaio-verdadeiro.
— É uma ave que não é nativa do Rio Grande do Sul. É comum em regiões centrais da América do Sul, como Mato Grosso do Sul e Paraguai. Provavelmente vieram capturadas e quando chegaram aqui fugiram ou foram soltas. Os primeiros bandos chegaram na década de 1990 e hoje são centenas delas em Porto Alegre — explica.
Uma vez fora da gaiola, conta Bencke, as aves domesticadas voltam a ter comportamento similar a de animais silvestres. Por isso, voltam a andar em bandos.
Para o ornitólogo, o registro feito pelo morador Duda Pinto e pela filha dele, Lídia, a partir do oitavo andar de um prédio na Cidade Baixa, mostra um dormitório coletivo de pássaros:
— Eles tendem a se concentrar em grupos de dezenas com dois objetivos. O primeiro é se proteger contra predadores, é mais fácil escapar quando você está em maior número. O segundo é por uma questão relacionada a busca de alimentos.
Dispersos durante boa parte do dia, eles tendem a se reunir na hora do repouso. Os líderes do bando se posicionam mais a centro. Já os machos com posições inferiores no grupo ocupam os galhos mais periféricos. Como estão fora do período de acasalamento, é bem possível que o agrupamento reúna fêmeas também — durante o período fértil elas costumam ficar nos ninhos.
— Os bandos circulam bastante pela cidade. É provável que tenham parado ali porque encontraram alimento em um lugar próximo. A "algazarra" pode ser justamente essas trocas de informações — conclui o especialista.