O resto é segundo plano. O novo Brasil que emergiu das urnas é centralizado e concentrado em um único ponto encravado no mapa do Centro-Oeste. O fenômeno começou a ganhar momentum na campanha, com a polarização entre o petismo e seus antípodas. Iniciado o governo Bolsonaro, a Capital Federal abocanhou definitivamente o protagonismo na pauta nacional.
Os debates, as polêmicas, os holofotes e as decisões se concentraram na Esplanada dos Ministérios e nos palácios projetados por Oscar Niemeyer. Me socorro de uma expressão do escritor e professor gaúcho Denis Lerrer Rosenfield para apontar um possível efeito positivo desse processo. O Estado brasileiro estava fraturado na sua autoridade. Com oito generais no ministério e um capitão da Presidência, tudo indica que o refluxo é só uma questão de tempo.
Vencido o lado luminoso da nova configuração do poder, a onipresença ofuscante de Brasília nas manchetes, nas conversas de WhatsApp e nas redes sociais expõe o enfraquecimento da federação. Estados quebrados e sem força política transformaram governadores em coadjuvantes do processo político nacional. Nessa arrancada de gestão, olham para o Planalto Central mais como torcedores, enquanto deveriam estar fardados em campo.
Na década de 90, um diretor de uma grande emissora de TV do Brasil se propôs a mudar o perfil editoral do seu principal telejornal. "Menos Brasília, mais Brasil", decretou, sob aplausos da equipe de jornalismo. A ideia era fugir do oficialismo e mergulhar pelas entranhas de um país desconhecido de si mesmo. Funcionou.
Trinta anos depois, o capitão Jair Bolsonaro reinventou o mesmo slogan na sua campanha: "Menos Brasília, mais Brasil". Na época, o candidato a vice na chapa de Marina Silva, Eduardo Jorge, acusou-o de copiá-lo. Mas a frase é bem mais antiga.
Estados e municípios mal têm força para chegar ao aeroporto e pegar, pires na mão, o primeiro voo rumo à Capital Federal. Há o natural magnetismo emanado pela reforma da previdência mas, mesmo assim, a desproporção de forças é gigantesco. Do jeito que a coisa vai, em breve algum marqueteiro sincero irá propor que a verdade seja dita. Ela cabe em uma frese curta, com apenas quatro palavras: "Mais Brasília, mais Brasília".