Aos nove anos de idade, já no grupo de danças tradicionais – ou invernada, para os gaudérios –, Gabriel Pavani chamou a atenção do professor do CTG Vaqueanos da Tradição. Toda vez que a música acabava, continuava sapateando. Não demorou muito para que fosse convidado para os ensaios da chula, uma dança típica gauchesca na qual dois peões – um de cada vez – sapateiam sobre uma lança, em formato de disputa. O objetivo é que a vara, geralmente de madeira, permaneça imóvel sob os pés ligeiros dos dançarinos.
– Antigamente, nas tropeadas dos gaúchos, a chula era uma maneira de competir pelo o coração de uma prenda – explica o menino, hoje com 12 anos.
De tanto ver o filho ensaiar com uma vassoura, Felipe Pavani resolveu equipar a garagem da casa da família, em Porto Alegre. Instalou um tablado móvel de madeira. A lança que usa nos treinos foi o prêmio recebido ao se consagrar campeão estadual no Festival Gaúcho de Chula, Fegachula, em 2016. Esse foi um dos mais de 50 campeonatos nos quais já concorreu. Quando se aproxima a data de algum, chega a ensaiar três horas por dia.
O tradicionalismo já levou a família Pavani a viajar por todo o Estado, e até pelo Brasil. Em julho do ano passado, Gabriel e a mãe, Rose Clei, viajaram para Querência, em Mato Grosso. Lá, o peãozinho venceu o Festival Nacional de Arte e Tradição Gaúcha na categoria chula mirim.
– Os ensaios dos nossos filhos no CTG são os momentos de convivência familiar que nós temos. Não tenho palavras para descrever o quando a cultura gaúcha nos aproxima – declara o pai. – Facilita até na educação deles, porque eles já crescem em um lugar que cultua valores muito corretos.
Felipe pondera que, na chula, é preciso valorizar os adversários. Para Gabriel, o sapateado é uma forma de fazer amigos. O guri conta que o clima de rivalidade se restringe aos tablados. Fora deles, o sentimento que prevalece é o de carinho e respeito.
– Depois de dançar a gente sempre se abraça.