Os debates geram uma gigantesca deformidade, pela relevância exagerada que assumiram no processo de decisão dos eleitores. Como faltam acompanhamento e interesse durante quatro anos, tudo se define nesses enfrentamentos, onde a forma sempre vence o conteúdo.
Sabedores dessa lógica, os candidatos não se preparam para governar, mas para superar os oponentes diante das câmeras e dos microfones.
Simulações são feitas, com atores ou correligionários nos papéis de jornalistas e adversários. Listas de perguntas são elaboradas e as melhores respostas ensaiadas, como se fosse uma peça de teatro. Gestos, olhares, posturas, tom de voz, nó ou não da gravata. Tudo é coreografado antes.
Duas horas de debate definem o futuro do país. Isso e a propaganda eleitoral, que mistura realidade e ficção em um país onde já é difícil identificar a fronteira entre uma e outra. As campanhas viraram algo parecido com aquelas entrevistas de emprego, às quais se chega com as respostas ensaiadas.
– Qual o seu maior defeito?
– Ser exigente demais comigo mesmo.
Ahã.
É duro admitir, mas um candidato que falar toda a verdade dificilmente se elegerá.
– Vou ter que cortar gastos, aumentar impostos, rever direitos, propor medidas impopulares e oferecer cargos em troca de apoio.
Candidatos viraram especialistas em dizer o que os eleitores querem ouvir e não o que tem que ser dito. Imagine consultar um médico que só diz o que você gosta, mesmo que a sua doença seja grave. Ele não prescreve o tratamento correto para não contrariá-lo, mesmo sabendo que a omissão pode ser fatal. Pior: muitas vezes, ele acredita que boas intenções bastam, sem ter qualquer base de realidade ou planejamento.
Um profissional assim teria seu registro suspenso e enfrentaria a dura mão da lei. A não ser que seja um político. Aí, ele se elege. E depois passa quatro anos justificando o injustificável.