"Recebi dezenas de e-mails." Em geral, essa afirmação, no jornalismo, funciona como muleta para abordar assuntos polêmicos. "Não sou eu quem está dizendo, mas...".
Há uma legião de homens e mulheres intimidados em Porto Alegre. São milhares, tenho certeza. Alguns se manifestaram durante a semana, quando comecei a ironizar a lei que impõe multas de R$ 2 mil a quem fizer xixi na rua.
A punição é justificada. O estranho é que não se estenda aos cães. Ou, melhor, aos donos que levam seus pets para urinar nos canteiros, muros e portões dos outros.
Foi tocar no assunto, começaram a chover histórias. "Meu portão enferrujou, não consigo cuidar do meu canteiro, minha parede está toda manchada." Recebi dezenas de e-mails.
Por esses nós culturais que vão se formando, as vítimas passaram a acreditar que são culpadas, desumanas, insensíveis e inimigas da humanidade por reclamarem da urina canina derramada impunemente nos espaços públicos e privados que frequentam.
Nos apelos que recebi, nem se falou tanto nas questões sanitárias. Mas senti claramente uma revolta contida, um sentimento de indignação amordaçado.
Tente explicar. Um ser humano que fizer xixi na rua é punido. Um cão que fizer xixi na rua é recompensado com carinhos e palavras de incentivo.