Proporcionalmente, não há cidade no mundo com mais títulos no futebol do que Porto Alegre. Se cruzarmos tamanho da população, posição geográfica, PIB, número e importância das taças, a capital gaúcha se transforma em um fenômeno planetário, ainda não devidamente estudado e compreendido. Só Libertadores são cinco. Mundiais interclubes, copas, recopas, torneios, mais de 10 títulos nacionais. E a estatística pode ficar ainda mais polpuda se o Grêmio bater o Real Madrid no sábado.
Por isso, nos últimos dias, uma pergunta me persegue: “grenalização” deve mesmo virar sinônimo de algo ruim? Minha resposta, definitivamente, é não. Uma palavra tem seus tons e semitons. Pode carregar significados diferente e até opostos nela mesma.
Porto Alegre só é esse fenômeno planetário por que se alimenta de uma rivalidade visceral. Real Madrid e Barcelona estão separados por 622 quilômetros. Inter e Grêmio coabitam a mesma casa, pegam o mesmo ônibus, estudam na mesma sala de aula, têm o mesmo sobrenome. Disso resulta uma energia fenomenal, temperada com a a herança gaudéria de bravura, de bravata e de batalha.
Grenalização é como colesterol. Tem o bom e tem o ruim. É importante saber e separar. A dúvida é se o lado luminoso sobrevive sem o sombrio. Meu palpite é que sim. Mas também é meu palpite que jamais saberemos. Sábado, na Filadélfia, estarei com as cortinas de casa fechadas e com o ouvido na Rádio Gaúcha. Longe do pago, comendo menos carne gorda, meu colesterol ruim deve ter baixado. Mas que baita saudade daquela costela gorda pingando no fogo e fazendo tsssss, tsssss.