Jorge Paulo Lemann já jogava tênis havia mais de uma hora. Sem parar. Aos 77 anos, parecia um guri. Feliz, sob o sol do outono de Porto Alegre. O mesmo sol que foi ficando mais forte perto do meio-dia. Então, Lemann cobriu a cabeça.
Contrariando o dress code das quadras, vestiu um boné daqueles em forma de cogumelo, que faz 360 graus de sombra. Tenistas, em geral, usam bonés de aba. Lemann, não. Na parte da frente, uma única inscrição: 143. Um número solto, sozinho, emblemático, desafiador.
Na hora, falando baixinho para não atrapalhar o jogo, comecei a perguntar se alguém saberia decifrar o significado. Quanto mais eu ouvia "não", mais eu pressentia algo grande, revelador.
Fui ao Google: um cântico a Jeová, uma música de Ray J, artigo da CLT que trata da conversão de um terço das férias em abono, uma resolução do CNJ. A de que mais gostei: 143 como representação de I Love You, pela correspondência ao número de letras de cada palavra. Uma casa noturna em Los Angeles. Outras milhares de referências.
Lemann veio a Porto Alegre para o lançamento de um projeto ambicioso. Incentivar a prática do tênis nas escolas públicas. A partir daí, encontrar um novo brasileiro número 1 do ranking mundial. Guga Kuerten foi o primeiro e único até agora.
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Empresários, atletas e admiradores do esporte assistiam às partidas que antecederam os discursos e o almoço. Eu só olhava para aquele boné. Era um sinal. Algo que eu deveria descobrir e que, quem sabe, mudaria para sempre a minha vida.
Foi quando, pouco antes do churrasco, um grupo se aproximou de Lemann para fazer uma foto. Era a minha chance. Enquanto todos se organizavam, puxei conversa: "Aquele boné com o número 143 que o senhor estava usando, o que significa?".
Lemann abriu um sorriso simples, desprovido de qualquer arrogância ou impaciência. Pensou meio segundo e respondeu, de um jeito tri simpático: "Sabe que eu não sei. Ganhei de um amigo e botei na cabeça". Murchei de decepção, antes de começar a rir de mim mesmo.
Feita a foto, contei a história a um amigo ali presente. Ele ficou bem sério. Aquela seriedade de quem se diverte com a reação óbvia ao que vai ser dito. Ele me olhou e disparou: "Acho que ele sabe o que significa, mas não quis te falar". Pronto. Que sacanagem.
Na dúvida, passei na lotérica e fiz uma fezinha.
Confira, em vídeo, o que o homem mais rico do mundo e o pai da Psicanálise têm em comum: