Os quase xifópagos João Doria e Nelson Marchezan têm muito comum. São tucanos, prefeitos de primeira viagem e tentam emplacar novas formas de gestão. Em meio ao pavor da Lava-Jato, ambos não demonstram desconforto em aparecer ao lado de executivos. Ao contrário. A dupla tem feito questão de convidar empresários e empresas a se envolver mais na vida das duas cidades.
É um modelo que vai além do flerte com a privatização ou com o estabelecimento de parcerias público-privadas, tradicionalmente associados às gestões do PSDB. Trata-se de incentivar ostensivamente empresas a realizarem doações aos municípios, ao que tudo indica, sem contrapartidas ocultas. Sem ranço ideológico, sem subserviência. Mas com controle. Tudo feito sob a mira dos holofotes - através da imprensa e das redes sociais, aliás, ferramenta usada com talento pelos dois.
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Mais do que marketing político, uma proteção a Doria e Marchezan contra eventuais desconfianças dos eleitores ou possíveis ataques da oposição. É um ganha-ganha - empresa e cidade se beneficiam da visibilidade positiva das ações.
Em São Paulo, entidades da construção civil se propuseram a doar R$ 20 milhões para as obras de um abrigo para moradores de rua. Fabricantes de asfalto pretendem ceder o mesmo valor em serviços de recuperação de vias. Uma terceira oferta, também de R$ 20 milhões, foi feita pela Qatar Airways para a conservação e manutenção de pontes e áreas verdes.
Em Porto Alegre, uma parceria entre prefeitura, Piratini e empresários possibilitou o conserto de mais de 100 viaturas da Brigada Militar.
Outra iniciativa prevê a colocação de 250 bancos, 115 lixeiras e a manutenção dos jardins do Parque Moinhos de Vento. Tudo pago por quatro empresas locais. Para que esse modelo dê certo, é fundamental transparência absoluta. Nada de favores ou cobranças indiretas.
E que fique claro: cuidar da cidade não é uma obrigação só das prefeituras. Mas cabe a elas liderar e canalizar esforços. Se as cobranças e os boicotes internos e externos não se tornarem insuportáveis, esse novo modelo é um caminho a ser observado, avaliado, criticado e melhorado. Se ainda não é a solução definitiva, é, pelo menos, uma boa tentativa.