Bem-vindo a um dos textos mais desinteressantes que você já leu. Nas próximas linhas, não vou denunciar ninguém, reclamar de nada, nem ensinar para o prefeito, o governador e o presidente o que eles devem fazer. Vou contar uma história absolutamente sem graça. Sem sangue e sem corrupção.
Pule, sem remorso, para a Rosane, para o David ou para o obituário. Vou compreender.
Era o último dia útil do ano. Eu estava no Litoral, tentando me desligar. Mas faltava uma coisa. Uma única coisa. Era urgente reconhecer firma em uma autorização de viagem para a minha filha. Pra piorar, eram quase quatro da tarde. Faltava pouco mais de uma hora para o mundo acabar, antes de recomeçar em 2017.
Fiz as contas, desanimado. Jamais conseguiria. Peguei o carro com minha mulher e nos fomos para Capão da Canoa, rumo ao tabelionato devidamente localizado pelo Waze. Na Paraguassu, eu já antevia o sofrimento da fila. Surpresa 1. Ao entrar, vi um montão de funcionários e zero de espera. Em menos de 10 minutos, tudo resolvido. Estranho.
Um dia antes, havia desabado um baita temporal. Num ímpeto de arrojo, fui mostrar praqueles bunda-moles como é que um nativo atravessa a rua alagada. Cheguei inteiraço do outro lado. Eu, sim. O carro, nem tanto. Descobri no caminho do tabelionato, quando um carinha sem camisa, ao lado da gatinha, apontou pro lugar da placa dianteira com cara de "te ferrou".
Foi-se a placa. Aproveitei e perguntei ao atendente do tabelionato onde eu poderia resolver a parada. Ele explicou que logo ali, meio atrás da prefeitura, tinha um CRVA.
Me fui. Dobra aqui, dobra ali. Tcharã! Detran. Faltavam alguns minutos para os CRVtudos fecharem as portas. Tinha lugar para estacionar na frente. Entrei. Surpresa 2. Três guichês, um deles vazio. No primeiro, uma família de sem-placa. O senhor com a camiseta do Grêmio brincava, mas brincava mesmo, muito de boa, com a atendente colorada. Ri junto da camaradagem e do respeito. Eles não se conheciam.
Tirei a senha, mas nem precisava. Contei minha história. Em cinco minutos, estava com a autorização para a confecção de uma nova placa. É claro, pensei, a bangornada vem agora. "Será que eu consigo fazer a esta hora?" O funcionário me olhou como se eu fosse um ET. "Sai aqui à esquerda que tem duas empresas. Elas cobram a mesma coisa. Então, tanto faz."
Na primeira porta, vi três pessoas sendo atendidas. Na segunda, bem do ladinho, não havia ninguém. Mas todos os funcionários estavam de prontidão. Apresentei o papel. Surpresa 3. Quando olhei pro lado, a placa nova estava saindo de uma prensa. De uma outra, a tirinha metálica com "Porto Alegre".
O funcionário foi comigo até o carro. Instalou a placa. Me cobrou R$ 50 por tudo. Ainda ouvi a mãe dele, à quem eu havia sido apresentado fazia pouco, gritar: "Arruma ali e pode fechar".
Feliz 2017.
Desculpe a chateação. Prometo, daqui pra frente, me esforçar para buscar histórias que provem como somos atrasados, incompetentes e maus.
CONTINUE LENDO O INFORME ESPECIAL DESTE FIM DE SEMANA (7/1 e 8/1)
Tiro no pé
Bandido bom é bandido morto. Muita gente repete essa bobagem acreditando que é uma solução. Ao contrário. É uma causa. Uma das principais. Se hoje nossos presídios são controlados pelas facções criminosas, é porque, em um determinado momento, as cadeias foram transformadas em depósitos de pessoas que não merecem estar vivas.
Em vez de tentar recuperar, apenas punir. Punir deveria ser parte da tentativa de ressocialização. Há, sim, os irrecuperáveis. A eles e a todos, o máximo rigor da lei. O outro extremo, que considera o bandido uma pobre vítima do sistema, é a versão esquerdoide do mesmo equívoco.
No Brasil, punir se transformou em um exercício torpe de vingança. A partir daí, criou-se um vácuo no sistema carcerário. E vácuos são rapidamente ocupados. Assim nasceu o Estado Islâmico, por exemplo.
No Rio Grande do Sul, chegamos ao ponto de autorizar a entrada de muito dinheiro no Presídio Central. Dinheiro para comprar sabonete, comida e proteção. O cálculo é de um dos servidores públicos que mais conhecem o assunto no país: potencialmente, até R$ 31 milhões por ano. Levados por visitas de forma lícita e transparente. Fora o resto.
Hoje, quem recebe e cuida dos jovens nas prisões são as facções e as igrejas. A conversão a uma delas é praticamente o único caminho de sobrevivência.
Enquanto o Estado não retomar suas funções, diretamente ou fiscalizando a atuação de terceiros, só haverá mudanças para pior.
A reconquista do espaço vai ser dolorida e difícil, mas terá de ser feita. Fora disso, estaremos apenas dando paracetamol para um paciente com câncer.
Desapoio incondicional
Se Michel Temer não fala sobre Manaus – omisso.
Se Michel Temer fala sobre Manaus e diz que foi um acidente – trapalhão.
Se Michel Temer tenta se explicar – inseguro.
Se Michel Temer diz que foi uma tragédia – só diz obviedades.
Se Michel Temer diz que a responsabilidade era do Estado – desinformado.
Se Michel Temer diz que a culpa também é do governo federal – incompetente.
Se Michel Temer chora – cínico.
Se Michel Temer não chora – frio.
Se Michel Temer chama os ministros – indeciso.
Se Michel Temer não chama os ministros – centralizador.
Se Michel Temer resolve, então, ficar quieto de novo – Viu? Não disse que era omisso?
TRIBUNA – Aqui, o leitor tem a palavra final
Sobre cães soltos na beira da praia:
Tens de ter a grandeza de parar de "cornetear" os cães que andam soltos em praças e praias, pelos seguintes motivos, como segue:
1 – É disparado o "único" Amigo Fiel do Dono e não tem nenhum interesse em agradar seu dono, ou seja, é um ser dócil e amável;
2 – Com certeza, os que "andam soltos pelos pagos que tu tá sempre na corneta", “Praças Encol, Parcão", entre outras, assim andam porque, com certeza, seus donos têm confiança em soltá-los (salvo exceções);
3 – São brincalhões e afáveis, não há maldade neles, só zoeira... Portanto, segue o conselho de um meio leitor seu, onde vê tu um cara ponderado "deixou de ser PTzão, UFA", correto e honesto, mas PECA nessas cornetas bobas com os cães!! CHEGAAAAA.
Rafael Brunatto
Ainda sobre o texto em que afirmo querer trabalhar até os cem anos:
Vc não tem vergonha? Responsabilidade, empatia, tb não?
Viviane Falkembach (Twitter)
Sobre a foto do carro abandonado estacionado na Travessa dos Venezianos, em Porto Alegre:
Agentes da EPTC já foram até no local e registraram o veículo como abandonado. Se não for retirado em 30 dias, vai ser recolhido.
EPTC