A proposta de reforma do Estado que está sendo encaminhada à Assembleia é a mais profunda e corajosa da história do Rio Grande do Sul. Haverá polêmica, debates acalorados, ranger de dentes. Mas, apesar das dificuldades, mexer nesse mostro é mais do que vontade ou visão ideológica. É uma necessidade urgente.
Como a reforma é ampla, tem suas imperfeições e excessos. Na essência, porém, merece aplauso. Não faz sentido um Estado sustentar um zoológico e uma gráfica enquanto a segurança, a saúde e a educação definham. Sem falar no déficit de infraestrutura. O que se discute não é o tamanho do Estado, mas a sua força e a sua eficiência.
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Durante estes dois últimos anos, critiquei dezenas de vezes a lerdeza e a falta de coragem do governo Sartori. Estou mudando o meu discurso. O governador sabe que pagará um preço político pelas suas propostas. Mesmo assim, decidiu ir em frente. Demorou, mas aí está uma resposta clara, um projeto objetivo de Estado que possa, minimante, cumprir com as suas obrigações mais amplas, em vez de servir apenas a corporações organizadas e, legitimamente, barulhentas.
Cabe agora aos deputados mostrar a mesma coragem. Para debater, mudar o que tiver de ser mudado nos projetos e, acima de tudo, para pensar mais no futuro desse Estado que juram amar, e menos na próxima eleição. A vitória de Nelson Marchezan em Porto Alegre, por exemplo, provou que "privatização" deixou de ser uma palavra proibida.
Democraticamente, é preciso respeitar o barulho dos que reagirão. Mas, principalmente, é fundamental escutar o silêncio de uma maioria cansada e desiludida com a política. Os votos brancos, nulos e as abstenções da última eleição deram o recado. Agora, a Assembleia terá a chance de responder. Ou de fazer de conta, mais uma vez, que não ouviu.