Vi minha filha olhando para mim. Um olharzinho misturando curiosidade, tensão e preocupação. Entrei em casa e dei oi.
Minha relação com o futebol foi amadurecendo com o tempo e com os erros. Mudei para melhor. Na quarta, desejei boa sorte aos amigos gremistas. Fiz com sinceridade. Porque estamos todos precisando de alguma alegria aqui neste fim de mundo.
Outro dia, eu voltava de um daqueles jogos que o Inter deveria ter ganho e não ganhou. Quando entrei em casa, percebi o olharzinho de compaixão da minha filha.
Foi numa fração de segundo. Me dei conta de que ali havia uma oportunidade. Usar a situação para falar de tristeza, de derrota e de frustração. Mas falar não é tudo. É preciso confirmar com o exemplo. O olhar da minha filha me fez segurar firme no volante e vencer a curva fechada. Na verdade, tenho de agradecer a ela.
Vou ao Beira-Rio neste domingo. Para assistir a mais um capítulo de uma história antiga e que vai continuar.
Na volta, aconteça o que acontecer, quero encontrar a minha filha, vou conversar sobre esperança ou sobre fracasso.
Eu morreria de vergonha se ela me visse chutando cadeiras – concreta ou simbolicamente – porque meu time vai mal. Não é assim que a gente lida com frustração.
Vou ao Beira-Rio torcer, falar mal do Piffero e do Valdívia, comer cachorro-quente, encontrar os amigos. É um baita programa. Tem sido há quase 50 anos.
E vai continuar sendo.