Em entrevista a Zero Hora publicada no fim de semana passado, o arquiteto Christopher Glaisek trouxe relevantes informações sobre a revitalização da orla de Toronto, a qual ele ajuda a coordenar. Em resumo, Glaisek disse ao meu colega Marcelo Gonzatto o seguinte:
1) Houve muitas consultas populares sobre o projeto;
2) A ideia é fazer da orla "um lugar para todos, não apenas um empreendimento privado";
3) O plano foi modificado diversas vezes e não foi simplesmente oferecido pronto para a população;
4) Há transparência e prestação de contas;
5) Já "há mais bicicletas e pedestres do que nunca" naquela região.
Claro que essas lições ajudam a pensar sobre a revitalização da nossa orla da Capital, mas além disso nos proporcionam uma reflexão mais ampla sobre os rumos do debate a respeito de assuntos de interesse público. Fiquei pensando que, se Glaisek morasse no Brasil e estivesse falando sobre nossa realidade, possivelmente seria tachado de ideológico por quem tivesse opiniões diferentes das suas – o mais provável, no entanto, é que nosso interlocutor imaginário usasse palavras bem mais agressivas contra o arquiteto em questão.
Quero dizer, com isso, que o debate frequentemente envereda por acusações de ideologização quando falamos sobre pontos que às vezes são pacíficos em outros lugares do mundo. Isso serve para muitos tópicos. A direita não se importa com a pobreza? A esquerda não julga importante o empreendedorismo? Quem inventou esses estereótipos: os nossos políticos ou nós? No fundo, o que está em jogo é a recusa em refletir profundamente sobre alguns dos temas mais relevantes. Será que não estamos perdendo de vista um projeto de país, Estado ou município? Talvez já o tenhamos perdido há muito tempo. Não seria a hora de tornar a troca de ideias mais técnica? Podemos começar por nós mesmos ao ler mais sobre assuntos que não dominamos antes de opinar.
Existem diferentes posições no espectro ideológico, as quais muitas vezes entram em colisão umas com as outras, mas há casos em que a classificação fácil do adversário simplesmente encerra o debate. O que deveríamos fazer, pelo contrário, é iniciá-lo.
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COMO NÓS
Estudo publicado na revista Science sugere que chimpanzés, bonobos e orangotangos são capazes de inferir as crenças de outros e antecipar seus erros. O resultado da pesquisa é mais inovador do que pode parecer: usualmente acreditava-se que os humanos eram únicos nessa capacidade de entender quando alguém tem uma "crença falsa" – um conceito da teoria da mente que está por trás de ideias como engano e empatia.
AINDA ELE
O vírus zika deixou de frequentar os noticiários com tanta constância, mas continua preocupando especialistas em saúde pública. Um encontro internacional no Rio, de 7 a 11 de novembro, vai discutir novas estratégias terapêuticas, vacinas e formas de controle.Realizado cerca de um ano após alerta de emergência do Ministério da Saúde sobre o zika, o simpósio é promovido em parceria entre Fundação Oswaldo Cruz, Academia Nacional de Medicina e Academia Brasileira de Ciências.
BOA CAUSA
A paz no mundo vai inspirar uma atividade de alunos, familiares e professores envolvidos com a Escola de Educação Infantil São Judas Tadeu. Neste sábado, no Parque Germânia, na Capital, eles criarão bonecos que materializam, em três dimensões, desenhos de crianças. A ideia do projeto é valorizar a brincadeira e ir na contramão de um mundo com excesso de consumo.
NÚMEROS
Em um estudo inédito sobre comércio exterior na área do audiovisual no Brasil, a Ancine divulgou que, em 2015, o país exportou US$ 154,8 milhões e importou US$ 1,6 bilhão em serviços audiovisuais (televisão, cinema etc.). O déficit de US$ 1,44 bilhão é uma notícia ruim, mas de 2014 para 2015 as vendas cresceram surpreendentes 110,1%, enquanto as compras tiveram um aumento de apenas 2,9%.