Depois de um longo silêncio, os donos da empresa Cettraliq, acusada de ser a responsável pelo mau cheiro e pelo gosto ruim da água de Porto Alegre, resolveram falar. Os sócios Wolf e Betty Gruenberg, acompanhados pelo químico Eduardo Salgado e pelo engenheiro químico José Bignetti, conversaram com o Informe Especial. Além de responderem a todos os questionamentos, entregaram um dossiê com 76 páginas de laudos, fotos, gráficos e reportagens veiculadas pela imprensa. Até o meio da tarde de sexta-feira, a empresa não havia sido comunicada oficialmente do fechamento definitivo. A seguir, os trechos mais relevantes do desabafo:
Todos os dedos apontam para a Cettraliq. Tanta gente pode estar errada ao mesmo tempo?
Tiveram de achar um culpado para os problemas políticos deles. Nos últimos anos, desprezaram nossos pedidos de limpeza da rede de esgoto da região e da construção de um ponto exclusivo de lançamento dos nossos efluentes, justamente para separar o joio do trigo. Estamos esperando até agora. Assim como estamos esperando que nos apontem o que encontraram de irregular na nossa operação. As suposições, baseadas no achismo, foram mudando. Nenhuma foi comprovada. Fiquei sabendo pela imprensa que irão nos fechar depois de 21 vistorias sem ter qualquer prova concreta. Temos 40 colaboradores que perderão o emprego. Um laboratório que emprega 500 pessoas e que é nosso cliente teve de adotar férias coletivas porque não tem onde tratar seus resíduos. Não sabemos quais os interesses por trás dessa perseguição injusta. Abalaram a nossa credibilidade de forma tal, que, de qualquer jeito, seria muito difícil voltar a trabalhar.
Como se explica o fato de o cheiro da água ser o mesmo sentido por todos na frente da Cettraliq?
Esse fato é a maior prova da nossa inocência. Temos mais de mil clientes cadastrados e atendemos, no máximo, 200 por mês. Os efluentes que tratamos são diferentes todos os dias. Logo, é impossível que o odor seja constante. A quantidade de efluentes tratados que despejamos no Guaíba é insignificante. Nem se quiséssemos, poderíamos fazer tamanho estrago.
De onde, então, vem o cheiro e por que a situação melhorou depois da interdição da Cettraliq?
O cheiro vem do chorume da sujeira da rede de esgotos, a mesma que pedimos para limpar várias vezes. Esse cheiro vem de fora pra dentro e não o contrário. E melhorou porque, depois que a opinião pública se mobilizou, as autoridades fizeram aquilo que já deveriam ter feito há tempo: limpar a sujeira que a população não vê nas redes de esgoto, mas que nós sabemos estar lá. Há cerca de 300 empresas operando na região e nem todas tratam seus resíduos e efluentes da forma correta. Nos escolheram como bode expiatório, depois de 12 anos de trabalho. A burocracia e a politicagem não podem vencer. Mas, do jeito que a coisa está, temos mais uma empresa fechada, vítima da demagogia e da injustiça.