O fato novo do Brasil pós-impeachment não será Michel Temer na Presidência. O atual vice e a equipe por ele montada já conhecem cada atalho de Brasília. A verdadeira novidade será o Partido dos Trabalhadores na oposição depois de governar o país por 14 anos.
Em 2002, quando a eleição de Lula se mostrou inevitável, seus adversários inventaram uma espécie de argumento de consolação: vai ser bom porque o Brasil fechará um ciclo. Meia verdade. O ciclo vai se fechar a partir de agora.
O PT era a última virgem. Transformou-se no Kama Sutra do poder explícito. Mas nem tudo foi prazer. Se os erros inspirarem a maturidade no papel de oposição, será bom para o Brasil. E para o que sobrou do PT.
O exercício irresponsável da oposição é tão nocivo para um país quanto um mau governo. Oposições virulentas e inconsequentes causam estragos gigantescos.
Quando nasceu, o PT abominava o sistema financeiro, os partidos tradicionais e a corrupção. Não soube construir a ponte entre o discurso e a longevidade das suas administrações. Às vésperas de sair corrido da Presidência, o partido tem a oportunidade de refletir. Não mais sobre o seu papel no Palácio do Planalto, mas fora dele.
O PT, mesmo enfraquecido, só terá lugar na vida do país se souber ser, na oposição, o que não soube ser nos últimos anos de governo: construtivo, crítico, honesto e humilde. O poder é um meio, não um fim. A mais antiga das lições não aprendidas. Quando esqueceu disso, o PT afundou.
Temo que o PT se transforme apenas em uma oposição ressentida e raivosa. Temo que use a CUT e o MST para extravasar sua legítima frustração. Será um erro – mais um – tentar repetir hoje o modelo de antagonismo cego dos anos 90. Se isso acontecer, o PT perderá mais uma chance. Talvez a última.
A “refundação”, palavra que andou na moda alguns anos atrás, parece esquecida até mesmo por quem a propôs. Parece, mas talvez seja outra coisa: um jeito atravessado de desistir.