Se alguém inventasse de me pedir uma dica de livro desses que a gente leva pela vida inteira, não pensaria em Shakespeare. Nem Dostoiévski, Kafka ou Clarice Lispector.
Recomendaria algum título sobre finanças pessoais.
Eu sei, eu sei. Você vai dizer: “Mas não é uma leitura muito intelectual”. Já ouço até os corneteiros gritando ao fundo: “É autoajuda! É autoajuda!”. Sei porque também pensei nisso quando um grande amigo me sugeriu. Mas não é bem assim.
Foi, para mim, o início de um mergulho em um novo mundo. Hoje, esse tipo de leitura é um dos meus prazeres secretos. Os anglófonos têm uma expressão para isso: guilty pleasure, quando nos sentimos culpados por gostar de algo tido como condenável – como a canção Evidências, um clássico. Mas não há nada de condenável em tentar entender o funcionamento do dinheiro. Vejo como um manual de sobrevivência no capitalismo, mesmo que você tenha críticas a esse sistema.
Todo mundo gosta de grana, mas poucos têm prazer em estudar o assunto. Como investir suas reservas, mesmo que sejam poucas, para gerar dividendos. Como barganhar com o banco para não pagar taxa de manutenção da conta corrente e anuidade do cartão de crédito. Como não entrar no cheque especial. Essas lições, provavelmente, não virão do gerente do banco. Nessa seara, é difícil saber em quem confiar. Você precisará de amigos ou... de um livro.
O que vemos na classe média é um estilo de vida que consome toda a renda mensal, isso quando não gera dívidas. Se vem um aumento no salário ou o décimo terceiro, vira gastos supérfluos imediatamente, como uma TV maior. Mas pense comigo: se dinheiro multiplica-se, mesmo em um investimento conservador, é importante começar a poupar ainda jovem. Muita gente prefere comprar um carro ou um apartamento cedo demais e acaba contraindo uma dívida para a vida. Melhor seria esperar o bolo crescer. Às vezes, os maus hábitos financeiros são herdados dos pais, que também têm dificuldade com o assunto.
Há um ditado que recomenda não deixar para depois o que você pode fazer hoje. Isso é bonito, mas nem sempre é verdade. Vejo todos os dias pessoas que torram suas economias em desejos impulsivos, quando poderiam viver de forma mais comedida e realizar muito mais sonhos na hora certa, financiados com parte da renda de seus investimentos. É verdade que nossa cultura do aqui e agora, acelerada pela velocidade das revoluções tecnológicas, não contribui muito para esse tipo de pensamento. Mas você nunca sabe o quão endividado está o conhecido que posta toda hora, no Facebook, álbuns de fotos de viagens maravilhosas ao Exterior.
*O colunista Tulio Milman está em férias.