O placar foi surpreendente: 95 a 39. A eleição do novo presidente do Tribunal de Justiça do Estado teve como moldura o momento de crise no Rio Grande do Sul. Guinther Spode seria o presidente ideal para tempos de paz. Luiz Felipe Difini, para tempos de guerra.
As ameaças de cortes no orçamento e os eventuais impactos na independência do Poder Judiciário fortaleceram o discurso mais contundente de Difini. O Palácio Piratini terá nele um interlocutor leal, mas disposto ao enfrentamento democrático, se necessário.
Difini começou a ganhar a eleição há dois anos, quando um acordo entre os então candidatos José Aquino Flôres de Camargo e Guinther Spode foi sacramentado. Spode desistiu de concorrer para apoiar Aquino, que se comprometeu a retribuir o apoio em 2015.
O acerto não foi bem recebido por amplos setores do tribunal. "Não somos um rebanho e nem massa de manobra", reagiu na época um dos descontentes.
A forma de protestar foi a eleição de um vice que não pertencia à chapa de Aquino: Difini. Juiz brilhante, foi traçando seu caminho à revelia do acordo. Difini montou uma chapa coesa, com nomes novos na política do Judiciário.
O resultado elástico da votação de segunda-feira foi um golpe imerecido contra Spode, um magistrado respeitado e com trânsito entre os colegas e na sociedade mais ampla. Uma leitura do momento deixa claro: mais do que uma rejeição pessoal, a derrota foi uma circunstância da conjuntura. Difini se apresentou com uma opção mais concreta no momento em que a judicialização da sociedade se acentua.
Uma certeza: o Judiciário gaúcho terá uma voz forte nos próximos anos. Uma voz que não hesitará em elevar seu tom para defender o que acredita ser justo.