É poético. É bonito. Entendo o significado simbólico. Essas pessoas que fazem cartazes e dão entrevistas e acendem velas e levam em frente suas vidas como se nada estivesse acontecendo. "Não tenho medo", elas dizem.
Eu tenho.
E acho que todos deveríamos ter.
Arqueologia da infância, durante uma sessão de terapia. Ouvi: "Tem o que fazem com a gente e tem o que a gente faz com o que fazem com a gente". Meio enrolado, mas brilhante. Você é xingado no trânsito. Isso você não controla. Mas a sua reação - xingar de volta, fazer que não ouviu ou descarregar uma pistola contra o outro carro -, isso é seu.
Nesse contexto, entendo o "eu não tenho medo". É um recado: vocês, fanáticos, não vão mandar no que eu sinto. Boa largada. Mas a chegada é em outro ponto.
A questão passa longe de sentir ou não sentir medo. O desafio é o que fazer com ele. E aí, mais uma vez, operamos nos extremos. Bombardear tudo ou fingir que não é com a gente e que Paris ainda é a mesma.
Cada um reage do seu jeito. Não vai aí julgamento, mas tentativa de soma e compreensão. É normal ter medo, ódio e raiva depois de uma agressão tão violenta. E não foi contra Paris. Foi contra o jeito como a gente vive.
Sentir é humano e saudável. Porque, se não sentir, não passa. Obama está com medo. Hollande está com medo. Putin está com medo. Cada um do seu jeito.
Não faltaram avisos, sinais e informações. Se, poderosos que são, tivessem sentido e reagido ao medo antes, nada disso estaria acontecendo. Porque o medo já seria bem menor.