
Segue disponível na Netflix, mas agora também pode ser visto no Amazon Prime Video O Patrão: Radiografia de um Crime (El Patrón, 2014), filmaço argentino dirigido por Sebastián Schindel. É o mesmo realizador de Crimes de Família (2020) e de A Ira de Deus (2022).
O Patrão é protagonizado por Joaquín Furriel, que ganhou prêmios da crítica argentina e dos festivais de Guadalajara e Huelva e que foi visto recentemente em Descanse em Paz (2024). Como Crimes de Família, se passa em Buenos Aires e intercala presente e passado — ou presente e futuro, como preferir. Em um tempo, acompanhamos os fatos que vão desembocar no outro, em que se desenrola a trama policial/judicial. Pelo menos um personagem de cada título cometeu algum tipo de delito, que o leva para a prisão e requer avaliação psicológica. Os dois filmes formam um díptico, já que ambos mostram abusos cometidos contra trabalhadores.
Mas há diferenças fundamentais. O Patrão é baseado em uma história real, Crimes de Família parece uma história real. Se em Crimes de Família Schindel intriga o espectador, revelando aos poucos o que levou a doméstica Gladys a acordar algemada a uma cama de hospital, em O Patrão logo de partida sabemos que o humilde e analfabeto Hermógenes Saldivar assassinou Latuada (Luis Ziembrowski, de O Mal que nos Habita), dono do açougue do qual era, simultaneamente, gerente e escravo.

Enquanto o advogado Di Giovanni (Guillermo Pfening) vai se inteirando do caso que pegou apenas para uma troca de favores com a assessora do juiz, interessado inicialmente apenas em reduzir a pena, vamos conhecendo o cotidiano degradante de Hermógenes — que sequer tinha direito a sua identidade: o patrão resolveu chamá-lo de Santiago, como a cidadezinha de onde veio.
De quebra, aprendemos sobre os legítimos podres do comércio de carnes, com seus truques sujos para repassar mercadoria estragada, por exemplo. Aliás, eis outra diferença significativa com Crimes de Família: Latuada é vil e grosseiro, ainda que tente engambelar Hermógenes, enquanto os personagens vividos por Cecilia Roth e Miguel Angel Solá são dissimulados.
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