É uma constelação o elenco da Tela Quente desta segunda-feira (17), às 22h15min, na RBS TV. Beleza Oculta (2016) traz dois atores e quatro atrizes que, juntos, concorreram 19 vezes ao Oscar e ganharam duas estatuetas.
Dirigido por David Frankel, o mesmo de O Diabo Veste Prada (2006) e Marley & Eu (2008), este drama com toques de humor tem como protagonista Will Smith - indicado ao Oscar de melhor ator pelas cinebiografias Ali (2001) e À Procura da Felicidade (2006). Ele interpreta Howard, dono de uma bem-sucedida agência de publicidade de Nova York. O personagem é apresentado discursando a sócios e empregados sobre as palavras que lhe inspiram criativamente: tempo, amor e morte.
Algum tempo depois, o radiante Howard deu lugar a um homem amargurado e desconectado do mundo. Escreve cartas endereçadas à Morte, ao Tempo e ao Amor. Quando aparece no trabalho, é para montar e desmanchar uma enorme estrutura com peças de dominós. O publicitário não superou a morte da filha de seis anos.
O estado de Howard preocupa seus três sócios. Whit é encarnado por Edward Norton, que disputou o troféu de melhor ator por As Duas Faces de um Crime (1996) e A Outra História Americana (1999) e de coadjuvante por Birdman (2014). Amy é vivida por Kate Winslet, premiada como melhor atriz por O Leitor (2008) e concorrente, na mesma categoria, por Titanic (1997), Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças (2004) e Pecados Íntimos (2006) - também foi indicada, como coadjuvante, por Razão e Sensibilidade (1995), Iris (2001) e Steve Jobs (2015). Michael Peña completa o trio, na pele de Simon.
Eles são amigos de Howard, mas também têm interesses financeiros: a agência está indo à bancarrota. Sem entrar em muitos detalhes, parte de Whit a ideia mirabolante para ou trazer o sócio majoritário de volta ao prumo, ou torná-lo legalmente pirado. Eles resolvem contratar três atores para incorporarem os três destinatários das cartas e confrontarem Howard.
Brigitte, que dará vida a Morte, é interpretada por Helen Mirren, vencedora do Oscar de melhor atriz por A Rainha (2006), postulante à mesma estatueta por A Última Estação (2009) e lembrada como coadjuvante por As Loucuras do Rei George (1994) e Assassinato em Gosford Park (2001). Amy, o Amor, é vivida por Keira Knightley, indicada a melhor atriz por Orgulho e Preconceito (2005) e atriz coadjuvante por O Jogo da Imitação (2014). Cabe a Riff (Jacob Latimore) ser o Tempo. Na jornada de transformação para a qual foram escalados, os três vão atuar como se fossem o anjo do clássico A Felicidade Não se Compra (1946), de Frank Capra.
Entrementes, Howard começa a frequentar, de modo silencioso, refratário, um grupo de apoio a pais que perderam os filhos. Quem comanda os encontros é Madeline, encarnada por Naomie Harris, que no mesmo ano de Beleza Oculta faria Moonlight, pelo qual disputou o Oscar de atriz coadjuvante em 2017.
Beleza Oculta foi massacrado pela imprensa americana, mas eu confesso: funcionou comigo. Sim, o plano dos três sócios é bastante antiético e bastante fantasioso, sim, há frases de efeito e surpresas telegrafadas, e talvez o filme abra portas demais. Só que, de alguma forma, encontrou um caminho para me emocionar. As palavras são a ponte: a obra se constrói a partir dos vários diálogos que estabelece, não só os que envolvem Howard, mas também o da Morte com Simon, o do Amor com Whit e o do Tempo com Amy. A mudança do protagonista não é a única em andamento.
Por fim, a farsa dos três atores não deixa de espelhar uma realidade. Filmes podem ser veículos que nos levam a reflexões sobre o amor, o tempo e a morte. Seus elencos precisam traduzir, pela fala e pelo corpo, sentimentos e ideias, de modo que criem uma conexão com o espectador. Se este, por sua vez, nem que seja por um instante, conseguir se reconhecer na tela, conseguir, pelos olhos de um personagem, enxergar uma saída ou um sonho, então a mágica está feita.