O Chile anunciou para esta segunda-feira, dia 7, a reabertura de suas fronteiras, um processo iniciado em 23 de novembro, mas então com quarentena de 14 dias e chegada apenas pelo aeroporto de Santiago, a capital. A partir de agora, os turistas serão monitorados por meio de um formulário que deve ser respondido a cada dia, com protocolos bem rigorosos de prevenção e combate à Covid-19 (confira as informações atualizadas em chile.travel/planviajarachile, já que as incertezas com a pandemia continuam).
O país também recebeu há poucos dias o chamado "Oscar do turismo", o World Travel Awards, em duas categorias: Melhor Turismo de Aventura e Melhor Destino Verde. Bem merecido para quem mantém mais de cem parques e reservas em seu território, uma estreita faixa com 4.270 quilômetros de extensão e uma geografia que inclui deserto ao Norte e geleiras ao Sul. É também um incrível ponto de observação de fenômenos astronômicos, como o eclipse total do sol do próximo dia 14, para o qual as regiões de La Auracanía e Los Ríos se preparam (o Observatório Alma, no Atacama, terá uma transmissão por streaming em seus canais no YouTube e Facebook).
As restrições e o medo de viajar ainda não devem atrair muitos brasileiros para o país vizinho, acredita João Augusto Machado, vice-presidente de Relações Externas da Associação Brasileira de Agências de Viagens no RS (Abav-RS). Mas a natureza e o turismo de aventura podem ser chamarizes, ainda mais considerando que o Uruguai segue com fronteiras totalmente fechadas e a Argentina restringe a visita de estrangeiros à capital, Buenos Aires.
— Há uma demanda forte de quem quer viajar, e a região dos lagos, no Sul, deve ser um destino atrativo, assim como os passeios privados ligados aos vinhos, já que as visitas às grandes vinícolas continuam restritas — acredita Machado — O Chile, em geral, atrai mais os brasileiros no inverno, para os esportes de neve.
Imponência e fragilidade
Por acaso, minha última viagem pré-pandemia foi para o Parque Nacional Torres del Paine, na Patagônia Chilena. É longe e não é barato, ressalvo. Mas valerá cada quilômetro e cada centavo. Meu ponto de partida foi El Calafate, na Argentina, numa viagem de cerca de quatro horas em uma espécie de ônibus montado sobre um chassi de caminhão que faz um bate-volta. A hospedagem foi em um hotel à beira do Rio Serrano, em uma das entradas do parque nacional — há quem faça apenas o bate-volta em um passeio de um dia, indo de El Calafate ou de alguma das cidades chilenas próximas, como Puerto Natales, mas já vou avisando: não faça isso! O tempo será curto e em Torres del Paine, assim como no resto da região austral, quem manda é o clima: você corre o risco de não enxergar as formações rochosas em seu esplendor ou de não poder navegar pelos lagos ou de perder alguma das muitas opções de caminhadas, incluindo no gelo, ou escaladas.
Um exemplo: eu já estava no meio do caminho para fazer a navegação pelo Lago Grey até a geleira de mesmo nome quando chegou a informação de que a saída havia sido cancelada por conta dos ventos fortes. Opção? Subir até o Mirador Condor, que me pareceu fácil, para observar a paisagem (incluindo árvores retorcidas que parecem fantasmas, fruto de um lamentável incêndio florestal causado por visitantes em 2011). Subidinha de uma altura de 250 metros, uma hora e meia de trajeto, dificuldade média. Achei barbada. O que eu não contava era com o vento de 70 km/h. Meu esforço acabou sendo hercúleo. E aí entendi o cancelamento da navegação. Não reclamei ao chegar ao topo do mirante e enxergar o azul do Lago Pehoé e as rochas de Los Cuernos de outro ângulo.
Minha pequena aventura é nada se comparada às caminhadas mais famosas e procuradas do parque: o Circuito W (76,1 quilômetros em quatro ou cinco dias) ou o Maciço Paine (93,2 quilômetros em oito a 10 dias). Que também, claro, sempre dependem de condições climáticas.
Seguir as normas e recomendações, aliás, é básico no parque. Descumpri-las ou desrespeitar os guardas-parques pode significar não só multas como expulsão e prisão. Um resumo do que é obrigatório: registrar-se na entrada, utilizar rotas e trilhas indicadas, andar acompanhado, respeitar horários de luz, carregar para fora todo o lixo que produzir.
É proibido fazer fogo, nadar, andar de bicicleta sozinho e levar animais domésticos. Para quem pretende ir em carro próprio/alugado, outro alerta: não há onde abastecer e os mais de 100 quilômetros de estradas sinuosas não são pavimentados. "Você é responsável por sua própria segurança e pelo entorno", aconselha um vídeo aos visitantes.
Parece exagero? Absolutamente não. Você perceberá logo o quanto aquele cenário imponente pode ser frágil. E, mais, o quanto você é pequeno e frágil diante de tudo aquilo.