Fernanda Morassutti esteve na Índia em setembro e, ainda sob o efeito desse período que ela considerou de transformação, enviou um texto contando sua experiência para a coluna.
Formada em Turismo pela PUCRS, Fernanda já visitou mais de 40 países em diferentes continentes.
Por Fernanda Morassutti
"Quando surgiu essa viagem a trabalho, me questionei. Confesso que a Índia é um destino que nunca me chamou atenção, tinha um certo receio. Kerala (ou Querala) é um dos 28 Estados do país e meu roteiro incluiu cidades como Cochim, a capital do Estado, com ênfase para a técnica local de pesca (foto abaixo), além de Periyar e Kumarakom e, no Sri Lanka, Colombo, Dambulla, Sigiriya, Minneriya, Matale, Kandy, Bentota, Ahungalla, Galle e Negombo.
O sul da Índia é bem diferente do norte, não há nada de exuberante na natureza em si. Há muitos campos, nada de monumentos, a densidade demográfica é bem menor, o índice de alfabetização é bem elevado – está ali a maior parte das universidades e há uma orientação toda voltada para o Ayurveda. Mas, desde a hora em que coloquei os pés lá, algo aconteceu: a energia, o olhar das pessoas...
As pessoas têm uma energia verdadeira – desde o motorista, o maleiro, o guia, o massagista. A gente sente algo diferente, sente estar num lugar especial. Até o segundo dia, eu não sabia o quanto eu precisava dessa viagem. Um sentimento de encontro comigo mesma, andando sozinha pelas paisagens, agradecendo à vida.
Fizemos um retiro muito especial, num lugar onde todos falam baixo e até o meu tom de voz mudou, naturalmente. Foi hotel-clínica Prakriti Shakti, na cidade de mesmo nome, um hospital de cura rodeado de plantações de chá. Aprende-se a alimentar a alma e não o corpo. Dormia e acordava cedo, coisa que nunca fiz. Na chegada, fazem uma entrevista para identificar o que precisamos tratar, pois acreditam que a cura está dentro de nós, com nossos recursos, eles só têm de ser estimulados. Gente de toda parte do mundo e com todo tipo de enfermidade vai em busca da cura.
Aprende-se que o ser humano não deixa o corpo se recuperar no seu tempo, já fica ansioso para tomar remédios. O repouso e o sono repõem tudo de que precisamos. Levei uma bolsa de remédios, que nunca abri, me tratei com óleos essenciais e bálsamos. Eu tinha uma dor no pescoço que não passava havia meses, recebi uma massagem a quatro mãos, aí veio uma dor maior ainda, dormi e acordei curada, sem sentir nada. Tudo é guiado pela naturopatia, os alimentos são crus e vivos, a forma como são feitos é que traz saciedade. Entendi aí o porquê da técnica de pesca local, que tinha visto ao chegar à capital.
Meu grande aprendizado foi não me desrespeitar mais, respeitar meu tempo, meu instinto. Mente sã, corpo são. Nunca me imaginei assim, sempre tive fama de elétrica. Cheguei a levar computador para trabalhar e só o carreguei, vi que não faria sentido usá-lo. Essa viagem foi uma pausa, um momento que eu precisava para mim e do qual não tinha a mínima consciência.
A gente entende que o sagrado é a conexão com nosso interior e o alinhamento com a natureza. É uma viagem para sentir e aprender, com pessoas que têm uma ligação maior com a vida. Cada um que fala com você fala com dedicação verdadeira, a gente se sente único na atenção, nas conversas. Estamos envolvidos no ioga, as pessoas são espontâneas, querem te conhecer.
É uma viagem para quem quer se dar um presente, um retorno à simplicidade e à nossa essência. Eu, que não iria, agora quero voltar sempre que puder."