Sou do tipo aquele da charadinha infantil.
A pergunta:
– Por que o cachorro entrou na igreja?
A resposta:
– Porque a porta estava aberta.
Pois, quando viajo, entro em toda e qualquer igreja que estiver com a porta aberta. Gosto de conhecer templos de qualquer religião: históricos ou não, conhecidos, desconhecidos, pequenos, grandes, recém-restaurados, em ruínas.
E aí, estava na cidade colonial goiana de Pirenópolis quando a primeira igreja com a qual deparei foi a matriz, a de Nossa Senhora do Rosário, do século 18. Não entrei. A porta estava fechada.
Fui ler sobre ela. Construída entre 1728 e 1732, tombada em 1941, restaurada entre 1996 e 1999, quase toda incendiada em 2002, totalmente restaurada e reinaugurada em 2006... Muitos ingredientes me atraíam para ela. Só voltar depois.
Tentei visitar outras duas: a de Nossa Senhora do Carmo e a de Nosso Senhor do Bom Fim. Cara na porta de novo. Fui conferir os horários de abertura. Aparentemente, nos dois dias seguintes, antes de ir embora, em algum momento do dia conseguiria entrar.
Voltei. E me disseram que era só ir pela porta lateral. Estava aberta. Mas era só a capela, que daria acesso à igreja que estava… fechada. No dia seguinte, nova tentativa. E nada. Consegui visitar a igreja do Carmo, que é belíssima, com seu museu de arte sacra. Mas a matriz, nada.
Fazia um calor do cão naquela tarde modorrenta de ruas vazias. Avistei um café bacana e fui tomar um sorvete. Estava distraída entre o sorvete, um livro, anotações e a observação da vida local quando passou um carro de som na rua em frente anunciando:
– Morreu o senhor Fulano de Tal, mais conhecido pelo apelido de Sicrano de Tal. A missa de corpo presente será às 16h na igreja matriz.
E seguiu pela redondeza chamando os moradores da cidade de pouco mais de 25 mil habitantes para prestar as últimas homenagens ao falecido.
Conferi no relógio: faltava meia hora para a cerimônia. Terminei o sorvete, me aprumei e subi a ladeira. Quando cheguei à porta, lá estava o caixão na nave central da igreja, lotada até o último banco. Me acomodei num canto e fiquei ali, bem quietinha, observando o templo que, de verdade, vale a visita.
Soube quase nada da história do morto que, pelo jeito, era uma pessoa querida na comunidade. Fiz uma oração e pedi desculpas pelo mau jeito. Mas achei que minha intromissão mereceria perdão.