Ainda faltam algumas horas até o fim da campanha eleitoral nos Estados Unidos e o candidato republicano Donald Trump já começou a repetir a cantilena da última eleição, colocando em dúvida a lisura do sistema eleitoral americano. Trump e seus seguidores insinuam ou dizem com todas as letras que se ele não for o vencedor é porque houve fraude. Qualquer semelhança com o que se viu no Brasil em 2022 não é mera coincidência. Também não foi coincidência que o Brasil tenha vivido no 8 de janeiro de 2023 uma baderna parecida com a invasão do Capitolio em 6 de janeiro de 2021.
O sistema eleitoral dos Estados Unidos não está sob suspeita. Qualquer tentativa de desacreditar o voto pelo correio, por exemplo, essa tradição secular, é marola. Lá existe o voto impresso “auditável” e, mesmo assim, em 2020, Trump tentou virar a mesa.
Como não existe Justiça Eleitoral, são os Estados que organizam a eleição e incluem temas de interesse regional para consulta aos eleitores. Só isso já impediria a adoção de uma urna eletrônica como a brasileira, pensada para uma eleição como a nossa, em que as regras são nacionais.
Nesta hora em que acompanhamos a discussão sobre a demora no resultado, que pode sair apenas na sexta-feira (8), devemos saudar a eficiência da Justiça Eleitoral brasileira e o sucesso da urna eletrônica, essa balzaquiana atualizada que nos permite conhecer os resultados no mesmo dia em que mais de 100 milhões de eleitores vão às urnas. Desdenhar do sistema brasileiro, dizendo que se fosse bom seria adotado nos Estados Unidos, é o legítimo complexo de vira-lata.
Dificultar o voto vai além da autonomia
O que se deveria questionar, no caso dos Estados Unidos, é a autonomia dos governos estaduais para adotar regras que dificultam a participação do eleitor no pleito. Isso, sim, fere a democracia e não pode ser normalizado.
De resto, é aceitar o resultado, ganhe quem ganhar. A maturidade democrática nos EUA permitiu que os baderneiros de 6 de janeiro fossem condenados, o que deve servir como vacina contra futuras tentativas de golpe.
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