A partir desta terça-feira (1º), você vai ver cidades com iluminação de prédios na cor rosa, flores de papel crepom enfeitando fachadas, cartazes chamando a atenção para a necessidade de prevenir o câncer de mama. Vai ouvir entrevistas de especialistas alertando para a importância da detecção precoce, apelos às mulheres para quem façam exames, discursos bonitos de candidatos sobre o outubro rosa. Será convidado para caminhadas de vitoriosas, verá mulheres vestindo camisetas cor de rosa.
Tudo legítimo, importante e inspirador, mas até que ponto é capaz de mudar a realidade das mulheres que não têm plano de saúde ou não podem pagar por exames particulares?
Essa reflexão é necessária no momento em que milhares de mulheres aguardam em filas virtuais o dia de fazer uma mamografia ou uma ecografia mamária, sem falar na ultrassonografia para detecção de tumores no útero ou no ovário. Como estamos no auge da campanha eleitoral e às vésperas de uma eleição municipal, convém prestar atenção ao que dizem (ou fazem/fizeram) os candidatos em relação à saúde da mulher.
Aí no seu bairro, na sua cidade, todas as mulheres que dependem do SUS têm acesso à consulta com um ginecologista e aos exames preventivos?
Embora o SUS seja tripartite (União, Estados e municípios), a gestão é municipal. Mesmo nas cidades que não dispõem de estrutura para exames mais complexos, são as prefeituras que encaminham as pacientes para centros regionais de referência.
Graças à ex-senadora Ana Amélia Lemos, o Brasil tem uma lei estabelecendo que, após identificada a existência de um tumor, o poder público tem 60 dias para iniciar o tratamento. Ainda que 100% das cidades estejam cumprindo essa lei (e sabe-se que não é bem assim), o problema anterior persiste e precisa ser atacado: quanto tempo demora para uma mulher obter o diagnóstico de um câncer de mama?
O ideal é que a detecção seja feita nos exames preventivos e não quando o tumor se torna visível/palpável. A ciência ensina que quanto antes for início do tratamento, maiores as chances de cura.
É preciso que cada mulher leve a sério os alertas para a necessidade de prevenção, mas esse discurso só fará sentido se na outra ponta os serviços públicos de saúde responderem com agilidade e presteza, começando pelas unidades básicas. Quando é o caso de cirurgia, já começou a corrida contra o tempo e não se pode perder meses à espera de uma autorização que demora a chegar.
É assinante mas ainda não recebe minha carta semanal exclusiva? Clique aqui e se inscreva na newsletter.