A histórica ligação do presidente Lula com Hugo Chávez e Nicolás Maduro deixa a diplomacia brasileira em maus lençóis diante dos sinais evidentes de fraude na eleição da Venezuela. Não pode o Brasil reconhecer o resultado de uma eleição feita sem transparência, com veto à presença de observadores internacionais, e que Maduro alega ter vencido com 51,2%, enquanto a oposição alardeia que Edmundo González fez mais de 70%.
Antes de chegar ao suspeitíssimo resultado divulgado pelo Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela é preciso rememorar o processo de aniquilamento dos adversários, feito por Maduro nesta e em eleições anteriores, excluindo da disputa quem se mostrava competitivo. A mais recente vítima de suas armações foi Maria Corina Machado, favorita para desbancar um regime autoritário que se traveste de democracia pelo simples fato de realizar eleições.
Lula já defendeu essa pantomima, mas agora percebeu que corre o risco de ser arrastado para o poço em que Maduro se afunda se emprestar seu aval a um processo eleitoral viciado.
Maduro, relembremos, fechou o espaço aéreo da Venezuela para impedir a participação de observadores internacionais, incluindo ex-presidentes, na eleição do último domingo. O Conselho Nacional Eleitoral, que proclamou Maduro vencedor, denunciou uma suposta invasão hacker ao sistema de apuração, que esteve travado por tempo suficiente para se fazer um “ajeitômetro” nos resultados. A eleição na Venezuela é em urna eletrônica, mas com impressão do voto, como quer a direita no Brasil. A totalização é informatizada.
Até o momento, o governo brasileiro não cumprimentou Maduro como vencedor, o que é um avanço. Pediu para ver as atas de votação, para se certificar de que o resultado é compatível com os votos dados, mas todo o processo na Venezuela é viciado, inclusive pela coação de eleitores. Enviado de Lula à Venezuela, o ex-chanceler Celso Amorim encontrou-se com o ditador em Caracas, o que não deixa de ser temerário.
Lula deveria inspirar-se no presidente do Chile, Gabriel Boric, que, mesmo sendo um homem de esquerda, não passou pano para o ditador e recusou-se a reconhecer o resultado da eleição na Venezuela, convencido de que a falta de transparência deslegitima o processo. Estados Unidos, Reino Unido e a maioria dos países da União Europeia seguiram na mesma toada.