Poucas vezes uma comparação fez tanto sentido como dizer que os segurados do IPE Saúde são como marisco, espremido entre o mar e o rochedo. Na briga dos médicos e hospitais por melhor remuneração (ou pela manutenção de práticas legalmente insustentáveis), sobra para quem? Para o servidor público e seus dependentes, que tiveram a contribuição reajustada ou uma cobrança adicional recente, sem a devida contrapartida nos serviços.
Os hospitais reconhecem que o IPE Saúde pagou os atrasados e isso é um avanço diante do histórico de incertezas na quitação dos débitos. Houve reajuste na tabela das consultas, das visitas hospitalares e dos principais procedimentos médicos. O impasse que ameaça deixar os servidores desassistidos é a resistência dos hospitais ao fim de uma prática que o Tribunal de Contas, o Ministério Público, a Contadoria e Auditoria Geral do Estado e a Procuradoria-Geral do Estado consideram ilegais. Para aumentar a remuneração diante das tabelas defasadas, o IPE se acostumou a pagar um sobrepreço nos medicamentos e insumos usados em tratamentos.
Ora, isso não passa de uma gambiarra. Será que a Unimed, o Bradesco, a Sul América ou qualquer outro grande plano de saúde aceitaria pagar duas, três ou 10 vezes mais por um cateter ou por um medicamento usado na quimioterapia, por exemplo, para compensar o baixo valor de uma diária? Os órgãos de fiscalização dizem que não e exigem dos gestores do IPE Saúde uma solução.
O presidente do IPE Saúde, Paulo Afonso Oppermann, que assumiu após a saída de Bruno Jatene, responsável pela organização da reforma, lembra que existe até inquérito aberto por conta dessa forma enviesada de remuneração dos hospitais. Auditorias internas descobriram cobras e lagartos nas contas apresentadas por algumas instituições. A tabela que estava defasada teve uma correção de 90% e, segundo Oppermann, hoje é semelhante à de outros planos de saúde.
— Corrigimos o valor da consulta para R$ 108, patamar compatível com o de outros planos no Brasil. Negociamos com a Amrigs e com o Sindicato Médico a correção do valor de 95 procedimentos que estavam muito defasados. Elevamos o valor da endoscopia e da colonoscopia. E no que é mais importante, os partos e cesáreas, a correção foi de 297% (passou de R$ 336,01 para R$ 1.001,09) — diz o presidente do IPE.
Aliás
O equilíbrio do IPE Saúde é essencial para os servidores e importante para os prestadores de serviços. São mais de um milhão de segurados que, se não tiverem um plano próprio, ficarão dependendo do SUS, que paga bem menos a médicos e hospitais credenciados.
Um olhar para o caso dos médicos
Segurados do IPE Saúde relatam casos de médicos credenciados que se recusam a fazer consultas pelo convênio, cobram um "preço especial", menor que o particular, e fornecem requisições de exames pelo plano. Contam que, mesmo indignados, aceitam a situação porque precisam da consulta e não denunciam para não fica mal com os médicos.
O presidente do IPE Saúde, Paulo Afonso Oppermann, diz que isso é irregular:
— Se o médico não quer continuar como credenciado, tem todo o direito de sair, mas não pode continuar no plano e cobrar dos segurados.
Se acordo com Oppermann, com frequência a Polícia Civil recebe denúncias desse tipo e abre inquérito. É outro problema que precisa ser resolvido.