A Argentina não é para amadores. Esse clichê voltou a ser repetido em mais uma eleição complexa, marcada por surpresas que os analistas locais têm dificuldade para explicar. O candidato mais votado no primeiro turno é Sérgio Massa, ministro da Economia do detestado presidente Alberto Fernández. Fez 36,68% dos votos, enquanto o favorito, Javier Milei, vencedor das primárias de 13 de agosto, ficou com 29,98%.
De fato, não é fácil explicar esse resultado. Massa é o candidato de um governo que pilota a nação argentina como um trem desgovernado, com inflação de 140% ao ano, moeda desvalorizada, 40% da população abaixo da linha da pobreza e PIB em queda de 3,3%.
Milei, um economista que se define como anarcocapitalista, é considerado um salto no escuro. Não conseguiu crescer porque não passou confiança de que seria o homem certo para recolocar a economia nos eixos. Assustou os pobres com suas ameaças de cortar benefícios sociais e agora terá de moderar o discurso para conquistar os eleitores de Patrícia Bullrich, candidata da direita moderada, apoiada pelo ex-presidente Maurício Macri.
Na primeira manifestação após a divulgação dos resultados, Massa fez um discurso propondo um governo de união nacional. Não chamou Patrícia para o diálogo, porque pouco antes ela avisara que não seria cúmplice do populismo e fez duros ataques ao governo.
O candidato governista preferiu dirigir-se aos eleitores de Patrícia, convencido de que uma eventual transferência de votos de votos para Milei não será automática. Chamou também os eleitores que votaram em branco, os que se abstiveram e os que escolheram os outros dois candidatos, Juan Schiaretti (6,8%) e Myriam Bregman (2,69%).
Milei, cuja campanha teve como símbolo uma motosserra, com a qual cortaria os privilégios das “castas”, terá de sair da sua bolha ultraliberal para conversar com a direita representada por Macri e Patrícia. Não há risco de os dois apoiarem Massa, mas podem se abster de uma participação mais intensa na campanha.
A vice de Milei, Victoria Villarruel, disse numa entrevista na noite de domingo que está disposta a conversar com Patrícia e atribuiu os ataques que fez à adversária, chamando-a de “montonera”, ao calor da campanha. Os montoneros foram um grupo guerrilheiro que atuou contra a ditadura militar.
Aliás
Na falta de pesquisas para subsidiar qualquer previsão sobre o segundo turno na Argentina é possível dizer que esta será uma guerra de rejeições: ganhará a eleição aquele que conseguir ser o menos rejeitado pelos eleitores dos outros candidatos, que somam um terço dos inscritos para votar.