Imagine-se a gritaria da esquerda se fosse Jair Bolsonaro e não o presidente Lula a liberar a ozonioterapia, contrariando a recomendação da Academia Nacional de Medicina e de diferentes sociedades médicas. Pois Lula sancionou o projeto, ignorando os pedidos de veto das entidades médicas e os alertas da própria Anvisa. Falou mais alto o interesse político e a necessidade de não brigar com o Congresso (leia-se centrão) por um projeto que até pode parecer inofensivo, mas os cientistas dizem que não é.
Os especialistas sustentam que a técnica, utilizada por dentistas, fisioterapeutas e esteticistas, não tem evidências científicas suficientes que atestem sua eficácia para o controle de doenças mais graves, como o câncer e a covid-19. O ozônio aplicado pelo reto foi defendido como terapia eficaz contra a covid-19 por médicos bolsonaristas, especialmente em Santa Catarina.
Relator do projeto na Câmara, o deputado Giovani Cherini (PL) se autointitula pai da lei que autoriza a prescrição da ozonioterapia por qualquer profissional de nível superior da área de saúde registrado em seu respectivo conselho. A lei trata a ozonioterapia como uma terapia complementar a outros tratamentos.
A ministra da Saúde, Nísia Trindade, foi contra a sanção da lei, mas Lula ignorou sua opinião. Da mesma forma, fez ouvidos de mercador para a carta da Academia Nacional de Medicina, que em carta aberta expressou sua perplexidade e preocupação, e alertou:
"A ozonioterapia gera um risco de ilusão em pessoas leigas, portadoras de doenças graves, como câncer, de que condutas dessa natureza possam ter efeito terapêutico".
A preocupação dos médicos não é só com a falta de evidências científicas, mas com os possíveis efeitos colaterais da medicação e com o fato de se prestar ao charlatanismo, dado que pessoas sem formação na área da saúde a recomendam como panaceia.
O Conselho Federal de Medicina também não avaliza a sanção da lei. Uma resolução de 2018, ainda em vigor, proíbe os médicos de usarem a técnica. A resolução diz que a ozonioterapia deve ser restrita ao uso em estudos clínicos.