Sejamos claros: o Ministério do Planejamento, mesmo sendo um dos mais importantes de qualquer governo que se preze, não era o que Simone Tebet queria. Ela preferia o do Desenvolvimento Social, área em que trabalhou na transição, por ter sob seu guarda-chuva o Bolsa-Família e outros programas em que o trabalho aparece, mas desse o PT não abriria mão para uma aliada de última hora. Ficou com o ex-governador do Piauí Wellington Dias.
Simone também tinha interesse no Ministério da Educação, pasta em que poderia colocar em prática suas propostas de governo, mas desse o PT também não abria mão. Ficou com o ex-governador do Ceará Camilo Santana, uma escolha acertada pelos resultados que o Estado tem a apresentar na área.
As opções foram escasseando. Lula teria oferecido o Meio Ambiente, num momento em que Marina Silva era cotada para Autoridade Climática. Simone disse que aceitaria, desde que houvesse um acordo com Marina. Impossível. Marina, pelo currículo e pelo respeito internacional, foi escolhida ministra.
O Planejamento restou como uma espécie de prêmio de consolação, se considerada a capilaridade e a capacidade de tornar popular quem senta naquela cadeira. Não deveria. O orçamento passa por ele, a ministra vai participar (se lhe deixarem) da formulação da política econômica e sua maior contribuição para o governo será ajudar a garantir que as promessas de campanha sejam cumpridas sem incorrer na irresponsabilidade fiscal.
— Não há política social sustentável sem uma política fiscal responsável — salientou, no discurso da posse, nesta quinta-feira (5).
Simone ainda consignou as divergências que tem com outros integrantes da área econômica. Disse tê-las mencionado na conversa com Lula, mas ele as ignorou, o que foi interpretado por ela como a afirmação de que as divergências são bem-vindas. Interpretação otimista.
Se houver um racha na equipe econômica, a candidata a cair é Simone, escolhida para o Ministério do Planejamento porque Lula tem uma dívida de gratidão. Sem ela, que se jogou na campanha do segundo turno, o presidente teria muito mais dificuldades de atrair eleitores do centro, decisivos para sua vitória na eleição
Simone não tem o respaldo do MDB. Ela concorreu à revelia dos caciques do partido, que preferem ministérios com mais poder de voto, caso de Cidades (Jader Barbalho Filho) e Transportes (Renan Calheiros Filho).
Pela natureza do cargo, Simone não viajará para fazer entregas como outros ministros. O Planejamento não é a melhor vitrine para quem deseja ser candidata a presidente, mas 2026 está distante e é prematuro colocar a eleição à frente do trabalho que precisa ser feito para atender às demandas do país.