Não há outra palavra para definir com precisão quem coloca fogo em ônibus ou carros durante um protesto contra o que quer que seja: é terrorista. Vandalismo é pouco para o que se viu em Brasília na noite de segunda-feira (12), quando um grupo de bolsonaristas radicais incendiou veículos, tentou invadir a sede da Polícia Federal e levou pânico à população que não conseguia voltar para casa, de ônibus ou de carro, depois de um dia de trabalho. O que houve em Brasília foi terrorismo e é espantoso que ninguém tenha sido preso pela polícia do Distrito Federal.
Havia método na ação dos radicais que, com paus e pedras, tentaram libertar o pastor indígena José Acácio Serere Xavante, um agitador conhecido de outras manifestações golpistas. Não era um grupo numeroso, mas se espalhou por diferentes pontos, dificultando a ação da polícia, que demorou para acordar. Havia clara desmobilização das forças de segurança, que relaxaram depois de a diplomação do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, e de seu vice, Geraldo Alckmin.
Feito o estrago na imagem de “patriotas pacíficos”, defensores do presidente Jair Bolsonaro apressaram-se em sugerir que os terroristas eram infiltrados e que os manifestantes acampados em frente aos quartéis não usam métodos violentos. A maioria até pode ser, mas não sejamos ingênuos de achar que quem tranca estradas para protestar contra o resultado de uma eleição ou pede golpe militar em frente aos quartéis seja candidato a Nobel da Paz.
Ou será possível esquecer aquela cena dramática do pai tentando convencer os trancadores de estradas no Mato Grosso a deixarem passar com seu filho que precisava de uma cirurgia no olho, sob pena de ficar cego?
O secretário da Segurança do Distrito Federal, Júlio Danilo, disse que parte dos autores dos ataques de segunda-feira faz parte do acampamento montado em frente ao Quartel General do Exército. Ele é a autoridade policial e tem informações que desmentem as teses de blogueiros e deputados preocupados apenas em limpar a barra dos irresponsáveis que queimaram carros e ônibus. Se a polícia tivesse sido mais diligente, a esta hora já saberia nome e CPF de quem promoveu a baderna e de quem estimulou os atos terroristas.
Depois desse episódio, as forças de segurança terão de reforçar o esquema de proteção dos cidadãos do Distrito Federal, das autoridades e das pessoas comuns que irão a Brasília para a posse. Será péssimo para a imagem do Brasil se o clima de guerrilha promovido pelos inconformados com o resultado da eleição atrapalhar o direito de ir e vir antes, durante e depois da cerimônia.