A vitória na eleição não dá ao futuro presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, poderes para governar à margem da lei, nem para interpretar à sua maneira as regras do jogo. Ao confirmar a indicação de Aloizio Mercadante para a presidência do BNDES, Lula está desafiando a Lei das Estatais, um dos poucos legados do governo de Michel Temer.
Essa lei diz que dirigentes partidários ou pessoas que trabalharam na estruturação de campanhas eleitorais não podem ser indicados para a cargos de direção em empresas públicas. Até aqui, vinha sendo respeitada pelo governo federal e pelos governos estaduais.
Mercadante pode ser homem da confiança de Lula para assumir qualquer ministério, mas sua indicação para a presidência do BNDES equivale a arrombar a porta para que as indicações políticas sejam o critério preponderante nas estatais, fórmula que já deu errado no passado.
O apadrinhamento político, mesmo quando os indicados eram técnicos, foi a base do escândalo do petrolão. Os partidos tinham seus prepostos na Petrobras e, por pouco, não mataram a galinha dos ovos de ouro.
Lula brinca com fogo e incendeia o mercado, derrubando a Bolsa e fazendo o dólar subir. O presidente pode ter desprezo pelo mercado ou achar (erroneamente) que pode fazer o que bem entender porque foi ungido nas urnas.
O mercado não é meia dúzia de analistas ouvidos pela grande mídia, como pensa boa parte dos petistas. São operadores que, desconfiando do risco de instabilidade, movimentam recursos e acabam desvalorizando o real, descapitalizando empresas brasileiras e, como consequência, provocando inflação, essa praga que a todos empobrece e afeta particularmente os menos favorecidos.