Em setembro de 1972, quando o Brasil comemorou os 150 anos da Independência, crianças e adolescentes de todas as escolas marcharam de uniforme novo para celebrar o feito de Dom Pedro I cantando o hino que começava assim:
“Marco extraordinário/ Sesquicentenário da Independência/ Potência de amor e paz/ Esse Brasil faz coisas/ Que ninguém imagina que faz”.
Era o auge da ditadura militar, tempo de um Brasil dividido em três partes: os que idolatravam o regime, os que o combatiam e os ingênuos (como eu) que não sabiam o que acontecia nos porões. Nós, as crianças do Brasil profundo, cantávamos sem medo e sem culpa o “hino do sesqui”, mas gostávamos mais de Eu Te Amo Meu Brasil. Todo mundo tinha na ponta da língua a música de Dom e Ravel: “As praias do brasil ensolaradas, laralálá...”.
A comemoração do “sesqui” tinha começado um ano antes, em tempo suficiente para aprender as músicas, montar bandas, treinar os jograis, decorar poemas de exaltação à Pátria e produzir redações sobre a Independência. O que sabíamos da História do Brasil desde o descobrimento era pouco, mas bem mais do que nos diziam os professores sobre os Anos de Chumbo.
O bicentenário ocorre em um país com mais de 30 anos de democracia, mas não menos dividido do que há 50 anos e às vésperas de uma eleição marcada pela tensão. De certa forma, lembra 1972: uma parte dos eleitores idolatra o presidente Jair Bolsonaro, outra o ex-presidente Lula, e os que não se identificam com nem um nem outro (por saber demais e não de menos, como há 50 anos) ganham o rótulo de isentões.
Esses três Brasis que evitarão se encontrar no 7 de Setembro terão de se reconciliar a partir de 30 de outubro, quando sai o resultado da eleição. Ganhe quem ganhar, a democracia manda que se respeite a vontade da maioria.
Aliás
É quase inacreditável que a coisa mais marcante do bicentenário da Independência tenha sido o governo trazer da cidade do Porto para o Brasil o coração embalsamado de Dom Pedro I, além de promover um desfile político-militar em Copacabana, para medir forças com a oposição.
7 de Setembro em Porto Alegre
Em Porto Alegre, o bicentenário da Independência será marcado por um desfile cívico militar e por atos políticos. Em respeito à data e à democracia, espera-se que os militantes tenham o bom senso de evitar atos de violência. Que cada grupo fique no seu quadrado. Em paz.