O jornalista Paulo Egídio colabora com a colunista Rosane de Oliveira, titular deste espaço
Ao ingressar oficialmente na corrida ao Palácio Piratini, o ex-governador Eduardo Leite (PSDB) consolidou o rompimento da promessa feita na eleição de 2018 - e repetida diversas vezes durante o mandato - de que não seria candidato à reeleição. A quebra da palavra deverá ser utilizada insistentemente contra Leite pelos opositores, que devem inclusive exibir vídeos antigos do tucano para relembrar os eleitores da contradição.
Ciente de que terá de responder diuturnamente sobre o assunto, Leite abriu a entrevista coletiva em que anunciou a pré-candidatura, nesta segunda-feira (13), lendo um documento no qual atribui ao apelo de líderes políticos, sociais e empresariais e ao mau desempenho de aliados em pesquisas as razões pelas quais topou concorrer novamente à cadeira que deixou no final de março.
No ato, o tucano disse que começou a pensar na reeleição em janeiro, e que a renúncia o deixou “mais confortável” para disputar o novo mandato, frisando que não concorreria se ainda estivesse no cargo:
— Só admito ser candidato a um novo mandato porque deixei o governo. Serei um candidato a governador, e não um governador candidato.
Além do compromisso de não disputar o segundo mandato, o ex-governador ainda deverá ser defrontado com outros episódios em que seus atos confrontaram o que foi dito na campanha anterior, como as promessas não cumpridas de pagar o funcionalismo em dia no primeiro ano de governo e de que não privatizaria a Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan).
Leite será o primeiro governador na história a tentar a reeleição depois de renunciar ao cargo.
Até hoje, todos os que tentaram um segundo mandato - Antônio Britto (MDB) em 1998, Germano Rigotto (MDB) em 2006, Yeda Crusius (PSDB) em 2010, Tarso Genro (PT) em 2014 e José Ivo Sartori (MDB) em 2018 - saíram derrotados.
Aliás
Embora não esteja ocupando o cargo, Eduardo Leite será candidato à reeleição, já que, se vitorioso, cumprirá o segundo mandato seguido no Piratini. Por isso, não poderia disputar o governo novamente em 2026.
Parceria desenhada
Admirador da ex-senadora Ana Amélia Lemos, que foi sua secretária de Relações Federativas, Leite reiterou que deseja tê-la em sua chapa majoritária e que vai “intensificar conversas” com PSD para fechar a aliança. Ana Amélia trocou o PP pelo PSD em março e tentará recuperar sua cadeira no Senado:
— Desejo estar com ela, se for o desejo do PSD e dela, e tenho convicção de que fecharemos essa composição no momento adequado — afirmou Leite.
Pista
Quando pleiteava a candidatura presidencial, Eduardo Leite dizia que os candidatos da terceira via deveriam sentar à mesa para o diálogo “tanto com a disposição de apoiar quanto de ser apoiado”.
Questionado se o mesmo vale para as negociações com o MDB no Rio Grande do Sul, deu uma resposta ao estilo Eduardo Leite: falou por quase cinco minutos sobre a composição entre PSDB e MDB no plano nacional, a semelhança entre os projetos e a necessidade de unidade dos partidos de centro.
Ao final, entretanto, deu uma pista, reivindicando como critério a viabilidade eleitoral:
— Respeitamos os demais partidos, vamos buscar construir convergência em uma candidatura. Eventualmente se entenderem que outro nome reúna melhor capacidade eleitoral dentro do quadro que temos aí, estarei à disposição para ajudar. Meu interesse é ajudar construir força para manter esse projeto.
Nas pesquisas internas, Leite aparece muito à frente do deputado Gabriel Souza, pré-candidato do MDB.
Pista II
Além de MDB e PSD, Leite citou nominalmente outros quatro partidos com os quais pretende conversar: União Brasil, Podemos, Cidadania e... PP, que tem o senador Luis Carlos Heinze como pré-candidato.
Leite disse que é legítimo que cada sigla aspire protagonismo eleitoral e que os partidos que integram a base aliada devem “construir juntos” a melhor alternativa. Novamente, deixou uma pista, indicando que o desejo é de receber o apoio do PP, não o contrário:
— Se houver possibilidade de entendimento, com muita alegria receberia também esse apoio.
Fora da urna
Ao abrir mão da candidatura para dar lugar a Eduardo Leite, o governador Ranolfo Vieira Júnior está fora das eleições deste ano. No cargo, ele poderia disputar somente a reeleição ao Piratini.
Mudança
Previsto para Brasília, o encontro em que o deputado estadual Gabriel Souza discutirá a pré-candidatura ao governo com o presidente nacional do MDB, Baleia Rossi, será nesta terça-feira (13), em São Paulo.
Gabriel viajou nesta segunda à capital paulista. A reunião está prevista para o final da manhã no diretório do partido em São Paulo.