Tente colocar no Google a frase “Bolsonaro faz novos ataques” e surgirão páginas e páginas com notícias sobre ameaças, ofensas e críticas do presidente da República aos ministros do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral e ao sistema de votação eletrônica. Logo, é um equívoco falar em “novos ataques” ou “novas críticas” ou “novas ameaças”. Faz tempo que Bolsonaro passou dos limites e suas patacoadas só são notícia porque a imprensa não pode normalizar o que é anormal.
É anormal que um senador filho do presidente, investigado pela prática de “rachadinha” quando foi deputado estadual pelo Rio de Janeiro, sinta-se autorizado a atacar a Justiça Eleitoral e atiçar os cães raivosos das redes sociais contra os ministros. É anormal que outro filho do presidente, esse deputado federal, tenha falado em “fechar o Supremo Tribunal Federal”.
Relembre-se que foi por esse sistema eleitoral com urnas eletrônicas que Jair Bolsonaro se elegeu presidente da República e, antes, deputado federal. Seus rebentos conquistaram mandatos de vereador, deputado estadual, deputado federal e senador. Estava tudo bem, até que Bolsonaro eleito resolveu implicar com a urna eletrônica e ameaça virar a mesa se não for eleito.
Nessa jornada de insensatez, Bolsonaro tem a companhia de jovens imberbes, senhores e senhoras de meia idade, cabeças brancas que serviram a diferentes governos, muitos dos quais eleitos e reeleitos pelo sistema eleitoral que agora colocam em dúvida.
Chegou-se no Brasil a um estágio de surrealismo que nem Salvador Dalí seria capaz de imaginar com aquela mente que era uma usina de criação de figuras estranhas. Nesse mundo que mistura surrealismo com realismo fantástico, vira notícia o fato de o presidente cumprimentar o ministro Alexandre de Moraes em uma solenidade pública e de o futuro presidente do TSE ter se levantado da cadeira para retribuir o cumprimento.
Desde a redemocratização, o processo eleitoral tem sido tarefa das “forças desarmadas”, como disse o ministro Edson Fachin, hoje presidente do TSE. Bolsonaro quer arrastar as Forças Armadas para sua aventura golpista, insistindo em não acatar o resultado da eleição, se não for ele o vencedor. Convém lembrar aos deputados e senadores que se empolgam com essas teses que, se houver uma convulsão social provocada pela tentativa de desmoralizar a próxima eleição, seus mandatos também estarão em risco.