Sempre que um ministro pede para sair com a justificativa de que vai provar sua inocência e depois retorna, o senso comum lembra de Henrique Hargreaves, chefe da Casa Civil de Itamar Franco e um dos expoentes do que em 1992 se chamou de “república do pão de queijo”. Hargreaves fez isso, provou que não tinha culpa em cartório e retornou. Depois dele, não se tem notícia de outro ministro que tenha saído para se defender e retornado com um atestado de inocência.
O ministro da Educação, Milton Ribeiro, foi exonerado a pedido nesta segunda-feira (28) e, na carta de demissão, disse que não estava dando adeus, mas um “até breve”. Pode até voltar, mas não será em breve. Não será porque em seis meses o Brasil terá eleições e o presidente Jair Bolsonaro é candidato a um segundo mandato. Não convém ir para a campanha tendo de explicar a montagem de um gabinete paralelo no Ministério da Educação, em que recursos eram liberados por influência de pastores que pediram propina a prefeitos.
A exoneração de Milton Ribeiro não livrará Bolsonaro de ser cobrado, na campanha, por terceirizar a liberação de verbas da educação para pastores. Porque Ribeiro, segundo a gravação que puxou o fio da meada, agia a mando do presidente ao privilegiar a liberação de recursos para prefeituras indicadas pelos pastores Arilton Moura e Gilmar Santos.
Na semana passada, em sua tradicional live das quintas-feiras, Bolsonaro saiu em defesa do ministro e, subvertendo a tradição de pôr a mão no fogo por alguém a quem se considera inocente, disse que colocaria a cara no fogo por Ribeiro. Não há evidências de que o ministro tenha recebido propina ou se envolvido diretamente na venda de bíblias superfaturadas para municípios, mas deixou que pastores sem cargo no MEC fizessem tráfico de influência.
Os líderes do Centrão intuíram que Ribeiro seria um peso morto na campanha e passaram a pressionar pela sua demissão. O ministro resistiu até esta segunda-feira, mas capitulou. O estrondo de sua queda foi abafado por outra, que não envolve acusação de corrupção, mas tem impacto no mercado financeiro, a do presidente da Petrobras, Joaquim Silva e Luna, um militar nomeado para mudar a política de preços da Petrobras e demitido por não conseguir segurar os preços dos combustíveis.