O jornalista Fábio Schaffner colabora com a colunista Rosane de Oliveira, titular deste espaço.
Já tem data prévia o fato político do ano no Rio Grande do Sul. Salvo o surgimento de intercorrências repentinas, Eduardo Leite pretende anunciar sua filiação ao PSD em 16 de março. Na data, o tucano reinaugura o formato 100% presencial do Tá na Mesa, da Federasul, um dos eventos mais tradicionais no calendário do poder no Estado. Como de praxe, o primeiro convidado do ano é sempre o governador, e Leite quer aproveitar os holofotes da imprensa e a seleta plateia, composta pela elite econômica e política do RS, para anunciar a candidatura à Presidência da República.
Tendo por título “O Rio Grande do Sul virou o jogo”, o tucano vai fazer uma prestação de contas do mandato, mostrando como as reformas, privatizações e o ajuste da máquina colocaram as finanças em dia, permitindo redução de impostos e investimentos de R$ 5 bilhões entre 2021 e 2022, algo impensável tempos atrás. Apesar dos apelos, Leite está decidido a manter a palavra e não tentar a reeleição. Também já tem na ponta da língua o discurso para justificar a guinada presidencial após perder as prévias do PSDB.
Quando concluiu a gestão em Pelotas e decidiu disputar o Piratini, Leite ouviu do empresariado local que o Rio Grande estava quebrado e deveria ser deputado federal, cadeira que a cidade há tempos não mantinha. Como resposta, dizia não poder dar as costas ao Estado e que havia solução para os problemas de caixa. Agora, afirma não conseguir assistir impassível à polarização entre Lula e Jair Bolsonaro, “o ruim e o pior”. A verdade é que Leite não tem paciência para funções legislativas, gosta de governar e está seduzido pela possibilidade de ser a grande novidade da eleição à Presidência.
Antes de bater asas na freguesia do PSD, Leite quer a garantia de que terá uma aliança competitiva. Gilberto Kassab prometeu um palanque reforçado, mas será preciso investir sobre o MDB e o União Brasil, dois latifúndios partidários que hoje negociam com João Doria (PSDB). Além do pouco tempo para se consolidar como a tão propalada terceira via, Leite tem o desafio de erguer uma espinha ideológica no PSD, um partido grande, mas cediço ao pragmatismo de Kassab, cuja essência política é não deixar a onça com fome nem o cabrito morrer.
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Concorrência
Ana Amélia Lemos vai seguir o mesmo rumo partidário que Eduardo Leite, e tem mais medo de José Ivo Sartori na disputa ao Senado do que de Hamilton Mourão. O vice-presidente, aliás, tenta fazer o PP não lançar candidato a senador, com a pretensão de ocupar, tal qual Jair Bolsonaro, os palanques de Luis Carlos Heinze e Onyx Lorenzoni.