De 1998 para cá, todas as seis eleições para o governo do Rio Grande do Sul tiveram uma coisa em comum, que deverá se repetir na de 2022: a privatização do Banrisul no centro do debate. O Banrisul já seria tema de qualquer forma, mas o governador Eduardo Leite precipitou a discussão ao afirmar, nas entrevistas que deu a GZH e Rádio Gaúcha, que a discussão sobre vender o banco será inevitável e que ele, particularmente, é a favor.
Nas duas entrevistas, Leite argumentou que o sistema bancário mudou muito e que um banco público não consegue competir com os privados neste mundo digital. Lembrou que o Nubank, criado há menos de 10 anos e sem nenhuma agência física, vale mais do que instituições tradicionais. Disse ainda que considera importante discutir se é melhor para o Estado ser dono de um banco ou usar o dinheiro para investimentos estratégicos. Leite ainda defendeu a manutenção do BRDE e do Badesul, dois bancos de fomento.
Ainda que Leite não seja candidato à reeleição, seu partido terá um representante na disputa. Esse candidato será questionado pelos movimentos favoráveis à venda de estatais, iniciado no governo de José Ivo Sartori e concretizado na gestão atual.
O primeiro pré-candidato a se manifestar contra a privatização do Banrisul foi Beto Albuquerque (PSB). Com o argumento de que o Rio Grande do Sul precisa do Banrisul para fomentar o desenvolvimento e socorrer pequenas e médias empresas, Beto firmou posição contra a venda do banco e, também, da Corsan, que deverá ser consumada em 2022.
O deputado Edegar Pretto, pré-candidato do PT, também é radicalmente contra a privatização do Banrisul. Foi seu partido que, em 1998, elevou a venda do banco ao patamar de tema prioritário nos debates, para fustigar o então governador Antônio Britto (MDB). No acordo de renegociação da dívida com a União, estava implícita a privatização do Banrisul, saneado por meio de um programa federal de socorro aos bancos públicos.
Caso não aceitasse vender o banco, o Rio Grande do Sul teria de destinar uma parcela maior da receita para pagar a dívida — e foi o que aconteceu.
O candidato do PT, Olívio Dutra, venceu a eleição e sepultou qualquer possibilidade de privatização do banco estadual, cumprindo a promessa de campanha. O Estado passou, então, a remeter 13% da receita líquida para a União, a título de pagamento da dívida.
Em 2018, o único candidato que defendeu a venda do Banrisul foi Mateus Bandeira (Novo), que fez 3,36% dos votos e ficou em quinto lugar.
A venda do banco era uma exigência do governo federal para a adesão do Rio Grande do Sul ao regime de recuperação fiscal. Foi por resistir e não apresentar um plano consistente de equilíbrio das finanças que José Ivo Sartori não conseguiu a aprovação da Secretaria do Tesouro Nacional (STN). Com as reformas que aprovou, Leite conseguiu montar um plano considerado aceitável pelo governo federal, sem vender o Banrisul, e deve encaminhar a adesão nesta terça-feira.