Um dia depois de tomar conhecimento de que havia sido um dos homenageados pelo presidente Jair Bolsonaro, com promoção ao grau de Grã-Cruz da Ordem do Mérito Científico, o pesquisador gaúcho Cesar Victora, um dos mais respeitados do Brasil, recusou a distinção. Em carta ao ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, distribuída também à comunidade científica, Victora explica os motivos para recusar a homenagem. O professor tinha recebido, em 2008, o título de comendador da Ordem do Mérito Científico por seu trabalho em favor da ciência.
“Embora a distinção represente um importante – e talvez o maior – reconhecimento para qualquer cientista brasileiro, ela me deixou dividido. A homenagem oferecida por um governo federal que não apenas ignora, mas ativamente boicota as recomendações da epidemiologia e da saúde coletiva, não me parece pertinente”, diz o professor emérito do Programa de Pós‐Graduação em Epidemiologia Universidade Federal de Pelotas.
Em outro trecho da carta, escancara sua divergência com o governo Bolsonaro: “Como cientista e epidemiologista, tenho tornado pública, através de palestras e artigos científicos, minha completa oposição à forma como a pandemia de COVID‐19 tem sido enfrentada por esse governo. Mais ainda, enquanto cientista não consigo compactuar com a forma pela qual o negacionismo em geral, as perseguições a colegas cientistas e em especial os recentes cortes nos orçamentos federais para a ciência têm sido utilizados como ferramentas para retroceder os importantes progressos alcançados pela comunidade cientifica brasileira nas últimas décadas”.
O professor acrescentou um parágrafo dizendo que escreveu a carta de recusa antes de saber que as indicações de dois colegas cientistas com posições críticas ao governo federal foram tornadas sem efeito, conforme o Diário Oficial de 5 de novembro. Ele se refere a Marcus Vinícius Lacerda , autor de um dos primeiros estudos sobre a ineficácia da cloroquina no tratamento de pacientes da covid-19, e Adele Schwartz Benzaken, que já foi diretora do departamento de HIV/Aids do Ministério da Saúde, mas foi exonerada no início do atual gestão.
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