O episódio da nota publicada — e depois despublicada — pelo PT, saudando a reeleição de Daniel Ortega , na Nicarágua, mostra a dificuldade que o ex-presidente Lula terá na campanha de 2022 para administrar as relações com ditadores ou aprendizes de tiranos. Ortega chegou ao poder de forma legítima, há 14 anos, mas seguiu o roteiro de outros líderes de republiquetas que tentam se manter no poder a qualquer custo.
No poder, suprimiu direitos civis e submeteu a Nicarágua a uma ditadura que em muito se parece à que ele criticava quando era o líder da oposição. Nesta eleição, particularmente, conseguiu o quarto mandato depois de mandar prender todos os adversários que ameaçavam sua continuidade no cargo.
A eleição foi contestada por observadores e políticos internacionais, mas o diretório nacional do PT publicou nota em seu site elogiando a vitória de Ortega com mais de 70% dos votos. A nota virou alvo de críticas de opositores e de petistas que não compactuam com os métodos de Ortega e levou a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, a apelar para o velho e surrado “eu não sabia”. Gleisi disse que a nota “não foi submetida à direção partidária” e que a posição do PT sobre qualquer país, "é de defesa da autodeterminação dos povos contra interferência externa e respeito à democracia". Mais tarde, o partido excluiu a nota do site.
O caso da Nicarágua não é o único. O PT em geral e Lula em particular têm dificuldade para endereçar qualquer crítica aos regimes de Cuba e da Venezuela, mesmo diante dos comprovados abusos contra opositores. A defesa incondicional ao regime cubano se dá sempre com a justificativa de que todos o os problemas do país são impostos pelo governo dos Estados Unidos. Nenhuma ressalva ao desrespeito aos direitos humanos, à falta de liberdade e ao arremedo de eleições em um país de partido único.
Em relação à Venezuela, a amizade com Nicolás Maduro é herança de Hugo Chávez, de quem Lula e os caciques do PT sempre foram próximos e fizeram vista grossa aos atropelos à democracia. Nenhuma crítica ao amordaçamento da imprensa e ao desrespeito às instituições, nem às eleições viciadas, que empurraram para fora do país milhões de venezuelanos famintos e sem perspectiva de futuro.
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