O silêncio do ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre sua opção por manter a poupança em uma offshore sediada nas Ilhas Virgens Britânicas, paraíso fiscal onde escapa dos impostos a que estão submetidos os brasileiros, começa a ficar pesado para o Palácio do Planalto. Mesmo que a ala mais aguerrida do bolsonarismo tudo releve, há pontos dessa história dos Pandora Papers que depõem contra a imagem de Guedes. Um desses é a mudança, por ele avalizada, na discussão do projeto do Imposto de Renda, que livrou da taxação quem tem ... dinheiro aplicado em paraísos fiscais.
Repita-se que não é ilegal um brasileiro endinheirado escapar do leão voraz e das incertezas da economia nacional nessas terras que são chamadas de paraísos fiscais - por motivos óbvios. Basta declarar à Receita Federal e ter como explicar a origem do dinheiro. No entanto, se for pessoa politicamente exposta, que pode se beneficiar das decisões que toma na condição de autoridade, a coisa muda de figura.
A Comissão de Ética Pública nada viu de errado no fato de Guedes ter uma offshore aberta em 2014, com medo da reeleição de Dilma Rousseff, e continuar com ela na condição de ministro. A Câmara e o Senado, entretanto, querem ouvir o ministro — e seria bom que Guedes, se nada tem a esconder, tratasse de abrir o livro da sua vida o quanto antes. É pelo Congresso que transitam os projetos importantes para o país e, se perder a confiança de deputados e senadores, o ministro da Economia terá dificuldades para fazer a defesa das propostas do Planalto.
Em defesa própria, o ministro diz que, depois de assumir o governo, as movimentações na empresa Dreadnoughts foram feitas pela filha, como se fosse possível acreditar que os dois não se falam sobre o destino de mais de R$ 50 milhões. É fato que seria complicado o ministro da Fazenda encontrar um investimento que, de alguma forma, estivesse blindado de influência pelas decisões que toma.
Uma coisa é defender a não taxação desses investimentos em paraísos fiscais sendo apenas o ministro da Economia. Outra, é sendo beneficiário direto da decisão.
Guedes também não tem poder para conter a disparada do dólar frente ao real, mas suas decisões impactam no comportamento do mercado financeiro. E mesmo que as últimas altas sejam mais influência do que ocorre no Exterior do que no território brasileiro, é inegável que, em reais, os US$ 9 milhões de Guedes se valorizaram nos quase três anos de governo Jair Bolsonaro. Os ganhos chegam a R$ 14 milhões, dinheiro que a maioria dos brasileiros não verá ao longo de toda a vida.
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