O R$ 1,2 bilhão anunciado pelo governador Eduardo Leite para o programa Avançar na Educação está longe de resolver todos os problemas que afligem pais, professores e alunos, mas deve ser saudado como um salto de qualidade na área mais importante para o futuro. Pela primeira vez, o Rio Grande do Sul tem um programa estruturado, que ataca os problemas da educação em várias frentes, a começar pelo mais elementar, que é a estrutura física das escolas.
O principal mérito é a clareza de que o século 21 exige um novo olhar sobre a escola, o mercado de trabalho, a escolha da profissão e a necessidade de se reinventar a todo momento. Rever conceitos e práticas não é tarefa fácil em um Estado apegado à ideia do “sempre foi assim”.
Antes de seguir adiante, é preciso fazer a ressalva de que os professores ficaram frustrados porque o programa não contempla reajuste de salário. Natural, já que todos sabem o quanto é difícil viver com o salário congelado quando a inflação oficial já passa de 10% em 12 meses e o piso, base do plano de carreira, não teve correção em 2020. Esse debate será feito a partir da definição do piso nacional do magistério que vai vigorar a partir de 1º de janeiro.
Por ora, saudemos as coisas boas que o Avançar traz para qualificar a educação, estimular os alunos do Ensino Médio a continuarem na escola e incentivar os professores a se qualificarem. Uma bolsa de R$ 200 a R$ 600 para gestores de escolas e professores de matemática e língua portuguesa que fizerem cursos de formação fora do horário de trabalho é bem-vinda neste momento crítico, depois de mais de um ano e meio de pandemia.
Pesquisa feita pela Secretaria de Educação constatou que o período de escolas fechadas, com aulas remotas ou híbridas, ampliou o déficit de aprendizagem em português e matemática, disciplinas essenciais para a compreensão das demais. Esses alunos precisarão de reforço e, para tanto, o Estado está contratando 4 mil professores temporários.
Saudemos, também, as bolsas que serão oferecidas aos alunos do Ensino Médio para evitar a evasão. A pandemia fez com que muitos desistissem da escola e é preciso trazê-los de volta antes que sejam jogados no mercado de trabalho sem qualificação, condenados a viver na pobreza, ou, o que é pior, recrutados pelo tráfico de drogas.
O projeto mais sedutor do Avançar na Educação é a escola-padrão. Ainda que no primeiro momento sejam somente 56, de diferentes regiões do Estado, servirão de modelo para os próximos governos. Esse é um projeto que o sucessor de Eduardo Leite deve ser instado a dar continuidade, porque a educação no Rio Grande do Sul não pode mais sofrer a descontinuidade que faz dar um passo à frente e dois atrás.
Se a escola de tempo integral de Alceu Collares tivesse sido levada adiante, hoje certamente a situação do Estado seria outra.
Aliás
A nota triste do lançamento do Avançar Educação foi ver, na transmissão pelo YouTube, comentários destrutivos de que não vai dar certo e até emojis de vômito ou raiva. A quem interessa que a educação fracasse?
Competição saudável
Na próxima semana vai para a Assembleia o projeto do Executivo que altera a distribuição de uma parte do ICMS destinado aos municípios para valorizar os que conseguem avanços na educação. A responsabilidade pela educação básica deve ser compartilhada com as prefeituras, já que as redes municipais também serão avaliadas pelo mesmo sistema estadual.