Se no Brasil até o passado é incerto, como diz a frase ora atribuída ao ex-ministro Pedro Malan, ora ao ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola, prever o resultado de uma eleição com quase 20 meses de antecedência é exercício de futurismo barato. Pular o primeiro turno e decretar que a final do campeonato de 2022 será a disputa entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode ser o sonho das duas torcidas, mas certamente não é o desejo de uma parcela significativa dos brasileiros.
A visão determinista de que teremos obrigatoriamente de escolher entre Bolsonaro, Lula, branco ou nulo ignora que ainda faltam 538 dias para o primeiro turno de 2022. É fato que qualquer pesquisa hoje indicará os dois como finalistas, porque o miolo do eleitorado ainda não tem um candidato para chamar de seu. Talvez tenha tantos que acabe pulverizando os votos e produzindo essa final em que os eleitores, em vez de votar a favor de um, votarão contra o outro. Há tempo de sobra para o centro buscar um candidato que una em vez de dividir, mas isso exigirá inteligência, gestão de egos e renúncia de parte dos que se acham iluminados.
A travessia de Bolsonaro até o dia da eleição será turbulenta. Os erros na gestão da pandemia, que vão do desprezo pela vacina à campanha contra o uso de máscaras, passando pela promoção de aglomerações e pela propaganda de medicamentos sem eficácia comprovada, cobrarão seu preço.
Mesmo que na bolha bolsonarista qualquer narrativa do presidente e dos filhos seja aceita como verdade absoluta, há uma legião de eleitores que digitaram 17 na urna eletrônica por ser o anti-PT, mas não pensam em repetir o voto no capitão.
Não menos acidentado será o caminho de Lula até a eleição. A narrativa dos seus fieis seguidores de que a Lava-Jato foi uma farsa para tirar Lula da eleição esbarra nos fatos. Primeiro, que Lula não foi absolvido com a decisão do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal. O que Fachin fez foi anular a condenação e mandar o processo para a Justiça Federal do Distrito Federal.
A decisão permite que Lula seja candidato, mas não apaga o que a Lava-Jato apurou sobre corrupção na Petrobras, pagamento de propinas milionárias e negociatas que sangraram os cofres públicos.
Aliás
Com mais de 2 mil mortos por dias pela covid-19, o momento seria de unir o Brasil pela vacina e por medidas que possam reduzir o tamanho da catástrofe sanitária, social e econômica, mas a liberação de Lula para concorrer precipitou o debate eleitoral.
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