Sem terroristas e sem choque de aviões contra edifícios, o Brasil teve quase um 11 de setembro neste dia 16 de março de 2021. Foram 2.840 mortes por covid-19 registradas em 24 horas. Só o Rio Grande do Sul responde por mais de um quarto desse total: 502, o que equivale a duas vezes a tragédia da Boate Kiss. Nos ataques de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos, o número de mortos chegou a 2.977.
Somando-se todas as vidas perdidas para o coronavírus até agora, são 282.127. A terça-feira (16) foi o pior dia não só para o Rio Grande do Sul. Santa Catarina, São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul também bateram recorde de mortes. Paradoxalmente, esses Estados estão entre os que tiveram, no último domingo, as maiores manifestações contra as restrições à circulação de pessoas.
Com o sistema hospitalar em colapso, governadores de diferentes Estados anunciaram nesta terça-feira novas restrições às atividades econômicas. Na contramão, o Rio Grande do Sul prepara a retomada da cogestão, que dará aos prefeitos a possibilidade de adotarem protocolos mais brandos. Na prática, significará retomar a partir do dia 22 atividades que hoje estão proibidas, mesmo que a bandeira preta continue tremulando em todas as regiões, porque os indicadores pioram a cada dia.
Em reunião com empresários, na noite desta terça, o governador Eduardo Leite apresentou o plano que deve vigorar a partir da próxima semana. É um movimento oposto ao que se viu nos países da Europa que adotaram lockdown e só começaram a sair quando a curva de internações e mortes baixou de forma consistente.
A ideologia foi sufocada pelo vírus: medidas restritivas — algumas próximas do lockdown — estão sendo adotadas por governos de esquerda, de centro e de direita. Em Minas, o liberal Romeu Zema, do Novo, estendeu para todas as regiões a “onda roxa”, equivalente à bandeira preta do Rio Grande do Sul.
Deputados do Novo, que atacaram governadores por adotar medidas restritivas e foram duros com o prefeito Alexandre Kalil, quando fechou Belo Horizonte, assistem apáticos à replicação dos decretos por Zema. BH chegou a ser apelidada de Kalilgrado, numa referência jocosa ao comunismo soviético.
As cenas de hospitais lotados, emergências fechadas e ambulâncias em disparada se repetem pelas cidades brasileiras. Prefeitos desesperados por não conseguirem atender à demanda por leitos e temerosos da falta de oxigênio e de medicamentos para intubação decretaram medidas mais duras do que as exigidas nos decretos dos governadores. Falta unidade no país. Na falta de um comando central, cada um faz o que acha razoável.
O governador Eduardo Leite discorda da interpretação da coluna de que a volta da cogestão no dia 22 esteja "na contramão dos outros Estados":
— Estamos duas semanas na frente dos outros estados. Começamos a restringir em 27 de fevereiro. Não tem “contramão” nessa história. São momentos distintos. Quero só ver quantos Estados terão três semanas de restrições tão duras quanto as nossas.