Criado na quarta-feira (24), um movimento contra o colapso na saúde e que reúne dezenas de profissionais da linha de frente do combate ao coronavírus, alerta para o risco de uma catástrofe humanitária sem precedentes se não houver conscientização das pessoas para a gravidade da situação.
Integrado por médicos que atuam em hospitais públicos e privados, dirigentes de hospitais, pesquisadores e profissionais de alguma forma ligados à área de saúde, o grupo troca ideias pelo WhatsApp e lançou nesta sexta-feira (26) um manifesto dizendo a que veio: mostrar a realidade sem filtros para impedir que mais pessoas morram por falta de atendimento.
“Estamos à beira da maior catástrofe humanitária da nossa história. As notícias convencionais e as redes sociais não conseguem mostrar o que está acontecendo de fato nas UTIs, Emergências e em todos os estabelecimentos de saúde espalhados pelo Rio Grande do Sul”, diz um trecho do manifesto.
Iniciativa do publicitário Eduardo Corrêa da Silva, e de seu sócio Alessandro Irigoyen da Costa, donos da CCM Group, empresa que organiza congressos médicos, o grupo ganhou a adesão de médicos dos principais hospitais do Brasil. A marca, na cor verde, remete tanto a mãos unidas quanto ao pulmão, órgão mais afetado pelo coronavírus.
— Embora nossa empresa viva de eventos presenciais, nós e a maioria de nossos clientes estamos com muito receio que o Rio Grande do Sul se torne um novo Amazonas — disse Corrêa à coluna, antes de o governador Eduardo Leite adotar as restrições máximas anunciadas na quinta-feira (25).
Nas trocas de mensagens, transparece a preocupação com a apatia da sociedade diante dos números que atestam o colapso no sistema de saúde. Por isso, o grupo decidiu promover campanhas nas redes sociais usando mensagens fortes, inspiradas nas cenas impressas em carteiras de cigarro, para desestimular as aglomerações.
“Criamos esse grupo para mobilizar, apresentar a realidade como ela é, levar a você informação verdadeira, com credibilidade e tocar cada um dos brasileiros para que ajude a evitar uma tragédia ainda maior tomando as medidas de proteção, evitando aglomerações e protegendo a si e a quem se ama. É hora de irmos além dos números”, continua o documento.
Entre os médicos, cresce a ideia de divulgar imagens a que a imprensa não tem acesso, do interior das emergências e das UTIs — preservando a identidade dos pacientes, naturalmente — para dar a verdadeira dimensão da tragédia. Um cinegrafista de São Paulo foi contratado para produzir imagens que retratem a realidade “da porta para dentro”.
Os primeiros cards já aprovados são dirigidos aos jovens, público que, por se considerar fora do grupo de risco, resiste em adotar os protocolos de segurança sanitária. De diferentes hospitais, os médicos relatam o crescimento das internações de jovens em ambulatórios e UTIs. No Hospital Moinhos de Vento, 35% dos pacientes em UTI têm entre 30 e 60 anos, mas em diferentes instituições há relatos de pacientes bem mais jovens internados em estado grave.
“Enquanto não houver uma grande expansão da vacinação, qualquer pessoa pode morrer, sem chance de tratamento, porque simplesmente não vai ter onde ser tratada. Isso afeta a todos que precisem de hospitalização e não apenas quem tem Covid-19. Vamos mostrar um pouco dessa realidade”, reforça o manifesto.
Estes são alguns das dezenas de profissionais que já assinaram o documento, estão André Fay, Stephen Stefani, Lucia Pellanda, Fabiano Ramos, Jaderson Costa, Rogerio Rocca, Leandro Zimermann, João Gabbardo e Erno Harzheim.
Confira a íntegra do manifesto:
“Somos médicos, lideranças da saúde e profissionais de diversas áreas, atentos e preocupados com o que acontece nesse momento em nosso país, especialmente no nosso estado, Rio Grande do Sul. Estamos à beira da maior catástrofe humanitária da nossa história.
As notícias convencionais e as redes sociais não conseguem mostrar o que está acontecendo de fato nas UTIs, Emergências e em todos os estabelecimentos de saúde espalhados pelo RS.
Por isso criamos esse grupo para mobilizar, apresentar a realidade como ela é, levar a você informação verdadeira, com credibilidade e tocar cada um dos brasileiros para que ajude a evitar uma tragédia ainda maior tomando as medidas de proteção, evitando aglomerações e protegendo a si e a quem se ama. É hora de irmos além dos números.
Enquanto não houver uma grande expansão da vacinação, qualquer pessoa pode morrer, sem chance de tratamento, porque simplesmente não vai ter onde ser tratada. Isso afeta a todos que precisem de hospitalização e não apenas quem tem COVID-19. Vamos mostrar um pouco dessa realidade.
Cada um de nós deve se tornar um protagonista da virada, cuidando-se, usando máscara, não participando de nenhuma aglomeração e ficando tão distanciado socialmente quanto possível. Esse manifesto é um chamado a este protagonismo e uma mobilização para uma luta que é de todos nós! Convidamos você a participar: Unidos pela a Saúde, Contra o Colapso!"