A adoção de medidas de restrição de atividades econômicas, como as decretadas no Rio Grande do Sul pelo governador Eduardo Leite, têm forte impacto na circulação do coronavírus, mas o período de tempo para que seus efeitos sejam sentidos na rede hospitalar pode variar. De acordo com o cientista de dados e coordenador da Rede Análise Covid-19, Isaac Schrarstzhaupt, isso depende da incidência de contágio, que está em nível elevado.
— Quanto mais alta, mais infectados a gente tem, e mais tempo essas pessoas vão precisar para parar a cadeia de transmissão. Se eu pego o vírus na terça-feira, só vou começar a ter sintomas e transmitir lá pela segunda, próxima terça-feira, é ali que eu tenho que estar o mais restrito possível. Mesmo assim, pode ser que eu transmita para alguém que esteja comigo, que more comigo. No Brasil, em alguns locais, muitas pessoas moram juntas. Isso altera o período que precisamos ficar afastados uns dos outros — explicou o especialista em entrevista ao programa Gaúcha +, na Rádio Gaúcha, nesta sexta-feira (26).
Segundo Schrarstzhaupt, os fechamentos mais fortes de final de semana, como os determinados em muitos Estados e municípios, não fazem sentido porque a transmissão do vírus demora dias para ocorrer após a contaminação. O especialista ressaltou que o contágio é uma reação em cadeia, ou seja, mesmo que a população diminua o ritmo de circulação e de transmissão nos próximos dias, há indivíduos se contaminando a todo momento, e que precisarão de leitos hospitalares em seguida.
Por isso, é possível que, antes de as cidades gaúchas apresentarem melhora nos números de casos e de óbitos, uma piora seja sentida.
— Mesmo que a gente puxe o freio de mão, tem pessoas se contaminando agora, infelizmente sem saber, que vão se somar àquelas que já estão na fila. Teremos uma piora pela frente. Quando começar a estabilizar, parar o crescimento, aí poderemos aumentar a circulação de leve, mas logo notaremos aumento de casos novamente. Dificilmente conseguiremos fazer um lockdown a ponto de eliminar o vírus, como conseguiram fazer em certas ilhas, por exemplo, onde se fecha a fronteira e não se deixa ninguém entrar — comparou.
Na opinião de Schrarstzhaupt, não é possível atribuir a explosão de casos a um único setor da sociedade:
— Essa doença é coletiva, ela afeta a todos. É um conjunto de todos os comportamentos da sociedade.