Cobrado a se manifestar depois que o presidente Jair Bolsonaro participou de ato antidemocrático no domingo em Brasília e disse que as Forças Armadas estavam a seu lado, o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, não tinha como se manter silente. A nota divulgada na tarde desta segunda-feira reafirma o compromisso do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, com a democracia. Traduzindo: os militares não avalizam ruptura institucional.
A nota pode ser interpretada não apenas como uma tentativa de desvincular as instituições dos arroubos autoritários do presidente, mas como um recado, nas linhas e nas entrelinhas, de que o apoio tem limite. Começa dizendo: “As Forças Armadas cumprem a sua missão Constitucional. Marinha, Exército e Força Aérea são organismos de Estado, que consideram a independência e a harmonia entre os Poderes imprescindíveis para a governabilidade do país”.
Reportagem do jornal O Globo mostrou que os ministros militares não concordam com a interferência dos ministros do Supremo Tribunal Federal em atos do Executivo, mas não dão guarida a pregações golpistas.
O Ministério da Defesa não condena os atos em si, apesar dos cartazes que pediam o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal e a volta de atos da época da ditadura, como o famigerado AI-5. Diz que “a liberdade de expressão é requisito fundamental de um país democrático”. Na frase seguinte, repudia os atos de violência contra profissionais da imprensa, afirmando que “qualquer agressão a profissionais de imprensa é inaceitável”.
Bolsonaro não condenou as agressões à equipe do jornal O Estado de S.Paulo. Disse apenas que não viu nada e que, certamente, se ocorreu era coisa de “infiltrados”. O presidente da República atiça os fanáticos contra a imprensa e, depois, quando aloprados que normalmente destilam ódio nas redes sociais partem para o ataque físico, os protege com a justificativa de que os manifestantes são pacíficos e que as agressões partem de “infiltrados”.
O episódio de Brasília, em que o fotógrafo Dida Sampaio foi atacado não é o primeiro e não será o último se as autoridades continuarem passando a mão na cabeça dos agressores. Quinze dias antes, o fotógrafo Jefferson Botega, de Zero Hora, foi agredido quando fazia a cobertura de um ato pró-Bolsonaro, em Porto Alegre.
Para o país, é importante saber que as Forças Armadas não avalizam esse tipo de comportamento primitivo e que entendem como prioridade o enfrentamento à pandemia, que o presidente insiste em tratar como questão menor. A nota é enfática: “O Brasil precisa avançar. Enfrentamos uma Pandemia de consequências sanitárias e sociais ainda imprevisíveis, que requer esforço e entendimento de todos. As Forças Armadas estarão sempre ao lado da lei, da ordem, da democracia e da liberdade. Este é o nosso compromisso”.