Os primeiros e raivosos discursos do ex-presidente Lula depois de sair da prisão e a reação de seus possíveis aliados na eleição de 2020 indicam uma tentativa de nacionalizar a disputa nas grandes cidades. A resposta dos adversários virá no mesmo tom, associando os candidatos do PT e seus satélites à figura de um Lula condenado por corrupção, que só está livre porque o Supremo Tribunal Federal mudou o entendimento em relação ao início do cumprimento da pena.
Com Lula preso, a tendência seria o eleitor definir seu candidato a prefeito com os critérios de quem escolhe um síndico para administrar a cidade. Deveria pesar a capacidade de oferecer soluções para os problemas do cotidiano e de apresentar propostas factíveis para melhorar os serviços públicos – da qualidade do asfalto aos serviços de saúde, da limpeza da cidade à iluminação que contribui para aumentar a segurança do cidadão, do transporte coletivo à educação infantil.
Em Porto Alegre, a eleição caminhava para uma disputa entre o prefeito Nelson Marchezan (PSDB) e seus desafiantes. A dúvida era se haveria um agrupamento de forças ou a pulverização de concorrentes, diante da proibição de coligações na eleição para vereador.
Como a provável candidata da frente PT-PCdoB-PSOL, Manuela D’Ávila, colou sua imagem à de Lula, a tendência é os adversários de centro-direita adotarem a bandeira anti-Lula. Na sexta-feira à noite, em telefonema para o deputado Paulo Pimenta, Lula mandou dizer que “quer ver o PT, o PCdoB e o PSOL juntos para eleger Manuela prefeita de Porto Alegre”.
Em pé de guerra, o PSL ainda não tem um nome definido, mas, se o presidente Jair Bolsonaro optar por um candidato, o risco é a eleição municipal se tornar uma disputa entre ele e Lula, sem que os eleitores se preocupem em escolher quem é mais capaz para administrar a cidade.
ALIÁS
Caso a campanha se transforme em uma briga de bugios entre as esquerda lulista e a direita bolsonarista, sairão ganhando os candidatos de centro, se conseguirem mostrar que têm um projeto para tornar as cidades melhores.
PSOL não quer saber de prato-feito
Apesar da declarada preferência do PT pelo nome de Manuela D’Ávila (PCdoB) para encabeçar uma futura aliança em Porto Alegre, o PSOL formalizou no sábado a indicação de Fernanda Melchionna como pré-candidata e reafirmou a sugestão de prévia para escolha dos concorrentes.
A deputada Luciana Genro disse que as prévias são o melhor caminho para que a chapa realmente represente a diversidade da esquerda na Capital, já que PT-PCdoB são antigos parceiros:
_ Não vamos aceitar prato-feito de uma mesma força-política. Precisamos apresentar uma nova esquerda.
O próprio PT está dividido entre os que acham razoável ficar fora da chapa e os que não abrem mão de indicar o vice de Manuela.